Título: Um escândalo gravado
Autor: Costa, Rosa ; Moura, Rafael Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2010, Nacional, p. A4

O escândalo que culminou com a prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido), na quinta-feira, foi desencadeado com a divulgação de vídeos em que aliados recebem suposto dinheiro de propina. Arruda é acusado de coordenar esquema de distribuição de recursos entre políticos batizado de "mensalão do DEM" - em referência ao ex-partido do governador - a fim de conquistar apoio na Câmara Legislativa. As imagens são o fundamento da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, deflagrada em novembro.

Em uma das gravações, o então presidente da Câmara, Leonardo Prudente (sem partido), aparece guardando dinheiro nas meias. Em outra, o empresário Alcyr Collaço coloca notas na cueca. As gravações foram feitas pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa, em um acordo de delação premiada.

Além de Arruda, diversos funcionários do governo e vários deputados distritais são acusados de participar do suposto esquema. Os recursos que o financiariam seriam fornecidos por empresas que prestam serviços ao governo. Com a divulgação dos vídeos, a defesa de Arruda disse que o dinheiro fora usado para comprar panetones na campanha de 2006.

No início de dezembro, a Câmara aceitou dois pedidos de impeachment contra o governador. Contudo, a base aliada de Arruda - maioria na casa - adiou a votação dos pedidos. Pouco depois, tanto Arruda quanto Prudente pediram desfiliação do DEM, antes que o partido tivesse votado as expulsões. A desfiliação do governador impede que ele concorra à reeleição neste ano.

Ao retomar os trabalhos em janeiro, a Câmara instituiu a CPI da Corrupção, mas o governador garantiu maioria. No dia 21, um juiz afastou Prudente da presidência. Wilson Lima (PR) - eleito para substituí-lo - também é da base de Arruda.

Em fevereiro, a PF filmou Antônio Bento da Silva tentando subornar uma testemunha para depor a favor de Arruda. No flagrante, Silva entregava uma sacola com R$ 200 mil ao jornalista Edson dos Santos, o Sombra. Silva foi preso. Na quinta-feira, o Superior Tribunal de Justiça votou pela prisão de Arruda e de outros cinco envolvidos, sob o argumento de que o governador estaria atrapalhando as investigações. No mesmo dia, ele se entregou à polícia.