Título: Seguranças e dissidentes do MST se enfrentam no Pontal
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2010, Nacional, p. A7

Não houve feridos, mas líder sem-terra relata ameaça de homens armados

Seguranças armados tentaram expulsar ontem dissidentes do Movimento dos Sem-Terra (MST) da Fazenda São João, em Mirante do Paranapanema, no Pontal, extremo oeste paulista. Os manifestantes, que ocupavam a estrada de acesso à fazenda, reagiram. O conflito, que não deixou feridos, foi intermediado pela Polícia Militar.

O coordenador local dos sem-terra, João da Silva, disse que os "jagunços" contratados pela fazenda ameaçaram voltar à noite para "liquidar" os manifestantes. Ele contou que os homens tinham "armas compridas", possivelmente carabinas e espingardas de calibre 12. A PM informou que os seguranças portavam armas registradas e eram funcionários de empresa de segurança legalizada.

O líder dos sem-terra, José Rainha Júnior, acusou os seguranças de tentar despejar à força os sem-terra. "Eles não entraram na fazenda e têm direito de ir e vir garantido pela Constituição." De acordo com Rainha, a fazenda é objeto de ação discriminatória por estar em área de terras devolutas.

Rainha acusou a União Democrática Ruralista (UDR) de incentivar os fazendeiros a se armarem. "A UDR segue a cartilha da senadora Kátia Abreu, que prega o conflito", disse, referindo-se à presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). O presidente da UDR, Luiz Antonio Nabhan Garcia, disse que Rainha procura conflito. "O proprietário rural tem o direito legítimo de se defender e defender a propriedade."

INVASÕES

Os dissidentes do MST montaram acampamentos em mais duas fazendas no Pontal e Alta Paulista, ontem, elevando para 63 o número de áreas marcadas pelo movimento para serem desapropriadas pela reforma agrária na região.

A estratégia do líder, de acampar sem invadir as propriedades, não foi observada pelos seguidores. Pelo menos seis fazendas foram invadidas.

Na Fazenda Beira-Mar, em Teodoro Sampaio, os sem-terra cortaram as cercas e se instalaram no interior da propriedade. Outros proprietários denunciaram invasões. Os donos das áreas invadidas terão de esperar a retomada do expediente forense para entrar com pedidos de reintegração de posse na Justiça. Os fóruns da região reabrem na quarta-feira.

Rainha reconheceu que algumas áreas foram ocupadas. No caso da Beira-Mar, disse que a área já foi negociada pelo proprietário com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), por isso os militantes "foram para dentro".

De acordo com Rainha, 60% das fazendas marcadas pelos sem-terra foram consideradas improdutivas pelo Incra. O líder contou que propriedades do governo estadual também foram ocupadas, como protesto contra o governo José Serra.