Título: Tribo relata contato com grupo isolado
Autor: Almeida, Roberto; Diório, JF
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2010, Nacional, p. A9
A partir de depoimentos de katukinas da Terra Indígena Rio Biá, expedição decidiu realizar nova entrada na selva
Após colher relatos consistentes de índios katukinas da Terra Indígena Rio Biá, no sudoeste do Amazonas, a expedição da Frente Etnoambiental Vale do Javari, realizada pela Funai em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista, decidiu realizar uma nova entrada na selva esta semana. Os katukinas afirmam que tiveram contato com um grupo isolado desconhecido, descreveram sua fisionomia e o local onde caçam.
O objetivo da expedição, comandada pelo indigenista Rieli Franciscato, é catalogar os vestígios deixados na mata pelo suposto grupo isolado para embasar uma possível demarcação de terras. De acordo com os relatos dos katukinas, o contato visual e verbal com os isolados foi feito a sudeste dos limites da Terra Indígena Rio Biá.
A área do contato, entre os Rios Jutaí e Juruá, é transitada por não-índios. Está a 150 quilômetros da cidade de Carauari e perto de uma pista de pouso clandestina, possivelmente usada por traficantes de drogas.
Para delimitar o percurso de expedição, a Frente Etnoambiental percorreu três aldeias katukinas - Boca do Biá, Janela e Bacuri - em um período de três dias para colher depoimentos. A informação inicial nas comunidades ribeirinhas era de que um isolado teria raptado uma mulher da aldeia Janela, chamada Luana.
A história tinha contornos fantasiosos, já que katukinas diziam que o rapto teria durado só um dia. O marido, cujo nome seria Mariano, teria ido buscar a mulher sozinho e desarmado, o que parecia inverossímil.
O rapto, porém, foi confirmado por todos os índios com quem a equipe da Frente Etnoambiental conversou. A mulher raptada e o marido não foram localizados, mas novas histórias sobre os isolados começaram a surgir, bem detalhadas.
Segundo o katukina Carnaval, que mora na aldeia Bacuri, a 40 quilômetros da cidade de Carauari, os isolados caçam em um igarapé próximo. Carnaval afirmou ter encontrado quebradas e varadouros, vestígios comuns de presença indígena, até fazer contato direto com o grupo desconhecido.
Nus, de baixa estatura, com cabelos longos e pintados com urucum, os isolados não teriam sido agressivos e tentaram fazer contato verbal. Eles possivelmente falam katukina. "Deu para entender tudinho", afirmou Carnaval.
INCURSÃO
A incursão da Frente Etnoambiental será feita por voadeiras e deve ter duração de dez dias. O katukina Carnaval vai acompanhar o percurso para auxiliar na localização dos vestígios. A expedição subirá um igarapé afluente do Rio Biá até onde for possível para então montar o acampamento base e entrar na mata. O trajeto tem cerca de 50 quilômetros. Os vestígios, segundo o índio, estão próximos da aldeia Bacuri.
Se houver mesmo a presença de isolados, a expedição pretende conhecer sua área de perambulação e catalogar vestígios para, em seguida, estudar a melhor maneira de protegê-los da ação do não-índio e até mesmo do contato com outros índios.
A maior preocupação é com a disseminação de doenças. Uma simples gripe poderia dizimá-los.