Título: PF vê propina de R$ 2,9 mi para aliados de Sarney e PT
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2010, Nacional, p. A8

Equivalente a 3% de parcela de R$ 97 milhões para obra da hidrelétrica de Tucuruí, dinheiro teria sido repassado pela Camargo Corrêa, diz relatório

Relatório da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, revela que a empreiteira Camargo Corrêa supostamente pagou propinas no valor de R$ 2,9 milhões ao PT e PMDB, principais partidos da base governista. No caso do PMDB, o dinheiro teria sido repassado a aliados do presidente do Senado, José Sarney, e corresponde a 3% de uma parcela de R$ 97 milhões liberada pela União para obras na eclusa da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, conforme informação divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo.

Sarney considerou a denúncia "uma infâmia" e disse que não vai se manifestar. A Camargo Corrêa informou que não comenta assuntos subjudice, mas em notas anteriores sobre o assunto, disse que considera as acusações "absurdas" e manifesta confiança nos diretores da empresa acusados de envolvimento nas irregularidades. Na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça suspendeu a operação depois que a defesa da empresa questionou a legalidade das provas.

Conforme a denúncia, manuscritos apreendidos pela PF em poder de Pietro Bianchi, diretor da construtora, indicam repasses de dinheiro para o PMDB em nome de "Astro/Sarney". A polícia acredita ter decifrado os dois nomes. O primeiro seria uma referência a Astrogildo Quental, diretor financeiro da Eletrobras e ex-secretário no governo de Roseana Sarney. O segundo seria Fernando Sarney, filho do presidente do Senado e alvo da Operação Boi Barrica, a qual o Estado está impedido de noticiar por censura judicial. Para o PT, os pagamentos teriam sido registrados em nome de Paulo, que a PF ainda não sabe de quem se trata. As direções do PT e do PMDB não responderam a reportagem.

Os pagamentos aparecem em documentos digitalizados apreendidos com Bianchi, um dos diretores da construtora que são alvos de ações judiciais.

A Castelo de Areia investiga um suposto esquema de corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro envolvendo executivos da empreiteira. A investigação alcança, além da Camargo Corrêa, doleiros, políticos e autoridades públicas. Na primeira fase, deflagrada em maio de 2009, a operação havia apanhado parlamentares e partidos de oposição, como o PSDB, entre os suspeitos de recebimento de caixa 2 da construtora, o que gerou uma onda de desconfianças sobre a investigação. O prosseguimento do inquérito acabou resvalando nos partidos da base governista.