Título: Lula irá a Teerã no dia 15, mas agenda está indefinida
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2010, Internacional, p. A12

Formato da viagem será o de "visita de Estado", o mais alto no cerimonial; mediação nuclear estará na pauta

Mesmo sem constar na agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a visita oficial ao Irã foi confirmada pela Presidência para 15 de maio. A data havia sido antecipada pelo chanceler Celso Amorim, em Madri, há dois dias.

No entanto, o formato da visita de Estado - nível mais alto previsto pelo cerimonial - ainda não está definido. Tampouco foi discutida a conveniência de o presidente Lula receber representantes da oposição iraniana durante sua estada em Teerã, com vem sendo cogitado, porque nenhum pedido formal chegou ao País.

Em geral, as agendas do presidente Lula no exterior são definidas na véspera do embarque e estão sujeitas a alterações mesmo durante a visita. A motivo formal para a visita é a retribuir a visita ao Brasil do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, em novembro. Mas o governo brasileiro discutirá com Teerã uma solução negociada para crise internacional desencadeada pelo programa nuclear iraniano.

A formulação dessa agenda dependerá, em especial, de dois cenários prováveis para os próximos três meses: a retomada das negociações do acordo sobre a troca de urânio iraniano por combustível nuclear, mediadas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ou a imposição de novas sanções ao Irã pelo Conselho Segurança da ONU.

A agenda do presidente Lula também deverá moldar-se à situação política interna do Irã. O governo brasileiro acompanhará com atenção o impacto do corte de US$ 100 bilhões anuais nos subsídios a produtos e serviços básicos sobre a população iraniana. Anunciada no mês passado pelo governo Ahmadinejad, a eliminação dessas subvenções poderá engrossar as manifestações contra o governo iraniano.

POSIÇÃO CHINESA

O alinhamento da Rússia aos EUA, França e Grã-Bretanha em torno da imposição de sanções não chegou a surpreender a diplomacia brasileira. Moscou já havia antes aderido à condenação do Irã no Conselho de Direitos Humanos, em novembro, e dera suficientes sinais de que não mais aposta em uma saída negociada. A China, com sua ameaça de veto a uma eventual proposta de resolução sobre novas sanções, figura como uma espécie de sustentáculo para a via escolhida pelo Brasil - a de que ainda há possibilidade de diálogo.

De acordo com um diplomata que acompanha o tema, a posição da China reflete sua insatisfação direta com duas iniciativas dos EUA. A primeira, a decisão do presidente americano, Barack Obama, de receber hoje o dalai-lama. A outra iniciativa foi a venda de armas a Taiwan.