Título: Sob críticas de Pequim, Obama recebe dalai-lama
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2010, Internacional, p. A13

Líder tibetano reúne-se hoje com presidente, mas Casa Branca tenta amenizar visita com cerimonial discreto para conter irritação chinesa

CHEGADA - Dalai-lama acena ao desembarcar em Washington

O presidente americano, Barack Obama, recebe hoje o dalai-lama para um encontro a portas fechadas na Casa Branca. A reunião deve exacerbar as tensões entre China e EUA, que vêm crescendo nos últimos meses. Autoridades chinesas advertiram os EUA no início do mês e pediram à Casa Branca que cancelasse a reunião com o líder espiritual tibetano. A China acusa o dalai-lama de lutar pela independência do Tibete.

A Casa Branca lançará mão de alguns gestos diplomáticos para reduzir o nível de tensão com os chineses. O encontro com o dalai-lama não será público, ao contrário da reunião do tibetano com o ex-presidente George W. Bush em 2007. Na época, Bush deu ao líder a Medalha de Honra do Congresso, exasperando os chineses.

O dalai-lama será recebido por Obama na Ala Oeste da Casa Branca, e não na área íntima, como fez o ex-presidente Bill Clinton. Obama e o líder tibetano se reunirão Sala dos Mapas. Nenhum presidente o recebeu no Salão Oval, o que seria considerado a honra máxima.

Robert Barnett, especialista em Tibete da Universidade Columbia, disse que o simbolismo do protocolo é muito importante para a China. O governo chinês teria tentado a todo custo evitar que o encontro fosse público. Segundo Barnett, desde que a China iniciou sua campanha mais agressiva de boicote, Austrália, Nova Zelândia, Alemanha e o papa recusaram-se a receber o líder tibetano.

RELAÇÃO ESTREMECIDA

O encontro com o dalai-lama é apenas o último de uma série de desentendimentos entre os dois países. Os EUA anunciaram recentemente a venda de US$ 6,43 bilhões em armas para Taiwan - considerado pela China como uma "província rebelde". A China disse que vai retaliar empresas americanas que fornecerem as armas. A secretária de Estado, Hillary Clinton, foi a público exortar Pequim a investigar os ataques de hackers contra o Google na China e também pediu maior liberdade na internet chinesa.

Aparentemente, os cuidados diplomáticos dos EUA surtiram algum efeito. Uma frota americana ancorou ontem em Hong Kong . Após o anúncio da venda das armas a Taiwan, a China havia declarado suspensos todos os intercâmbios militares com os EUA. Mas o fato de Pequim ter permitido a ida dos navios liderados pelo USS Nimitz foi visto como um gesto de boa vontade, na véspera do encontro de Obama com o dalai-lama.

Washington quer o apoio da China para a adoção de sanções contra o programa nuclear iraniano. A China é o único membro permanente do Conselho de Segurança da ONU que não apoia sanções, principalmente porque os chineses importam grande parte de seu petróleo do Irã.

Em seu primeiro ano de governo, Obama tentou uma abordagem conciliadora com a China. Deixou questões como direitos humanos em segundo plano e se aproximou de Pequim em áreas como reforma financeira. Em outubro, ele adiou um encontro com o dalai-lama, temendo abalar laços com a China às vésperas de uma reunião de cúpula em Pequim. A decisão foi duramente criticada por grupos de defesa dos direitos humanos.