Título: Ministros são chamados a explicar bate-boca e ameaças de demissão
Autor: Nossa, Leonêncio
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2010, Nacional, p. A4

Em encontros ontem, Lula deixou claro que está irritado com crise sobre Programa de Direitos Humanos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou os ministros Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) e Nelson Jobim (Defesa) para explicar a troca de insultos e as ameaças de demissão, que classificou de "chantagens" contra o governo. Em encontros ontem no Centro Cultural Banco do Brasil, Lula deixou claro que está irritado com a crise sobre o projeto do Programa Nacional de Direitos Humanos, que prevê o interrogatório de torturadores do regime militar (1964-1985), e orientou Vannuchi até mesmo a interromper as férias, segundo assessores.

No centro cultural, onde despachou ontem, Lula determinou à sua equipe que o início do seu último ano de gestão deve ser pautado por balanços positivos do governo e conclusões de projetos em andamento. A crise, na avaliação de assessores do próprio presidente, só expôs problemas que não são da esfera do Planalto. Para Lula, a questão das torturas e execuções sumárias ocorridas na época da ditadura devem ser resolvidas pela Justiça.

Embora seja considerado um ministro sem peso político, Vannuchi conta com a simpatia de setores importantes do Planalto, que não veem com bons olhos o comportamento de representantes das Forças Armadas diante de um projeto elaborado por diversos ministros civis.

Uma parte do governo classificou como "insubordinação" a atitude de comandantes das Forças Armadas em protestar nos bastidores.

Dispostos a manter relação amistosa com as Forças Armadas, os ministros Franklin Martins (Comunicação Social) e Dilma Rousseff (Casa Civil) procuraram não se envolver na briga. Ambos, no entanto, não escondem que o tema dos direitos humanos precisa ser visto com atenção pelo governo.

VERDADE

Assessores do governo observam que, por trás da proposta de uma Comissão da Verdade para esclarecer o que ocorreu nos porões da ditadura, não está apenas uma disputa entre os ministros de Direitos Humanos e da Defesa. Lula, segundo pessoas próximas, sabe que tem uma "dívida" com as entidades que buscam informações sobre os crimes da ditadura.

Desde que assumiu, em 2003, o presidente nunca cobrou dos militares o esclarecimento sobre torturas e execuções de guerrilheiros. Os arquivos oficiais sobre os crimes nunca foram abertos.

Pessoas próximas de Lula dizem que agora, faltando menos de um ano para deixar o poder, o presidente precisaria dar uma satisfação aos parentes dos mortos. Para assessores, o processo de redemocratização completará 25 anos e o esclarecimento dos fatos há muito deixou de ser visto como risco à estabilidade política.