Título: Arruda fala em armações e pede afastamento do cargo
Autor: Domingos, João ; Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2010, Nacional, p. A5

Em carta à Câmara Legislativa, ele diz que "enfrentará todas as vicissitudes com serenidade"

No momento em que soube que seria preso, o governador José Roberto Arruda escreveu, à mão, uma carta aos amigos, na qual afirma que é vítima de uma "campanha difamatória" e que fará de tudo para mudar a legislação eleitoral e política brasileira "para acabar com as injustiças". Logo depois, ele mandou uma carta à Câmara Legislativa pedindo afastamento do cargo.

Na carta aos amigos, Arruda disse que a campanha contra ele não encontra paralelo no processo que levou ao impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992, na crise do mensalão, que atingiu o governo do PT, em 2005, e nos escândalos que abalaram o governo de Yeda Crusius (PSDB), no Rio Grande do Sul.

Arruda agradeceu aos amigos a "solidariedade" e prometeu que dará a volta por cima. "Dou-lhes a certeza de que vamos superar essa triste episódio, fazendo prevalecer a verdade sobre as armadilhas, as farsas, os golpes baixos da política, sobra as maquinações diabólicas que, mais cedo ou mais tarde, serão desmascaradas".

Assim como ocorreu na carta aos amigos, na outra, em que comunicou o afastamento do governo, Arruda assumiu o papel de vítima. "Armadilhas, armações, flagrantes pré-fabricados, denúncias politicamente bem elaboradas para não apenas impedir a minha participação nas eleições de 2010, mas agora também com o objetivo de me destruir política e pessoalmente."

No lugar de Arruda, ficou o vice-governador do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), que deverá se reunir hoje com os deputados distritais para falar de seus planos de governo. Na carta, Arruda disse que vai "enfrentar todas essas vicissitudes com serenidade, equilíbrio e firme determinação de fazer com que a verdade prevaleça e de que bandidos travestidos de mocinhos sejam desmascarados".

O pedido de afastamento de Arruda foi lido ontem à tarde na Câmara Legislativa na presença de 12 dos 24 deputados distritais. O pedido de afastamento é automático e não precisa ser votado pelos parlamentares. "Diante da gravidade dos fatos, peço licença do cargo de governador do Distrito Federal pelo tempo que perdurar esta medida coercitiva, para não transferir a Brasília e à sua população a agressão que fazem contra mim e ao cargo que legitimamente exerço, eleito que fui pelo voto popular", diz a carta.

Em sua visão, Arruda acredita ter desarmado "uma quadrilha que se locupletava de dinheiro público há muitos anos". Por isso, disse que tem sofrido represálias: "Agora volta-se contra mim de maneira torpe para confundir a opinião pública, confundir as autoridades e tramar minha saída do Executivo".

CARTA DE ARRUDA

"Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal A campanha insidiosa contra mim chega a um ponto culminante com a decisão do Superior Tribunal de Justiça, que considero imprópria, absurda, mas que devo acatar. Ainda ontem, meus advogados legalmente constituídos estiveram no STJ para manifestar o meu desejo de prestar depoimento para pôr fim a esta série de armadilhas, armações, flagrantes pré-fabricados, denúncias politicamente bem elaboradas para não apenas impedir a minha participação nas eleições 2010, mas agora também com o objetivo de me destruir política e pessoalmente. Diante da gravidade dos fatos, peço licença do cargo de governador do Distrito Federal pelo tempo que perdurar esta medida coercitiva, para não transferir a Brasília e à sua população a agressão que fazem contra mim e ao cargo que legitimamente exerço, eleito que fui pelo voto popular. Estou consciente de que desarmei uma quadrilha que se locupletava de dinheiro público há muitos anos e que agora volta-se contra mim de maneira torpe para confundir a opinião pública, confundir as autoridades e tramar a minha saída do Executivo, como se isso tivesse o poder de esconder as falcatruas que durante tantos anos praticaram impunemente."