Título: Arruda quebrou sigilo do painel do Senado
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2010, Nacional, p. A7

Após escândalo, voltou à cena política com a humilde confissão de erro e foi recordista de votos

BRASÍLIA O governador José Roberto Arruda (sem partido), preso ontem por tentativa de suborno, traz um currículo ímpar na política brasileira. Atraído para a vida pública há 19 anos, Arruda ascendeu na esteira da redemocratização do País e da autonomia política de Brasília. Caiu em desgraça ao ser pego no escândalo da violação do painel do Senado, voltou à cena política com a humilde confissão de erro nos bairros mais populares de Brasília, foi o recordista de votos para o Congresso e derrotou Joaquim Roriz, seu antigo padrinho ao eleger-se governado, em 2006. Ontem, acabou preso.

Mineiro de Itajubá (MG), engenheiro elétrico por formação, Arruda preparava-se para a disputa de seu segundo mandato no governo do Distrito Federal, na chapa "puro-sangue" que compunha com Paulo Octávio, quando foi apanhado pela Operação Caixa de Pandora há três meses. O fato culminou uma carreira esboçada a partir de seu ingresso no serviço público de Brasília, em 1979, e iniciada de fato 12 anos depois, quando foi integrado à equipe de governo de Joaquim Roriz.

Secretário de Obras, Arruda coordenou a construção do metrô.

Aprendiz de Roriz, Arruda disputou sua primeira eleição em 1994, com a ambição por uma cadeira no Senado, e sagrou-se o segundo mais votado. Mas descolou-se do padrinho político um ano depois, quando deixou o PP de Roriz para ingressar no PSDB. Em 1998, sentiu-se maturo para enfrentar Roriz pelo governo do Distrito Federal. Perdeu e voltou ao parlamento, onde se envolveu em seu primeiro escândalo público.

ACM

Vassalo do então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), Arruda cooperou com seu novo padrinho no episódio da violação do painel eletrônico da Casa, durante a votação da cassação de Luiz Estevão (PMDB-DF) em 2001. Apanhado, sua primeira reação foi negar veementemente. Depois, Arruda subiu à tribuna: "Eu errei". Ele renunciou ao mandato e foi expulso do PSDB.

O sepultamento de uma breve vida política deu lugar a uma volta por cima. Arruda seguiu por meses a rotina diária de bater à porta de cada casa das cidades que rodeiam Brasília para pedir perdão e, dissimuladamente, o voto. Saiu-se recordista na Câmara dos Deputados em 2002, com 27% dos votos válidos do Distrito Federal, e quebrou a marca que apenas Leonel Brizola havia alcançado, 40 anos antes.

Em 2006, elegeu-se no primeiro turno para o governo de Brasília, com mais de 50% dos votos.