Título: É um pecado que vamos ter de pagar
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2010, Nacional, p. A7

Foi o desabafo do senador Heráclito Fortes (DEM-PI) ao saber da prisão de Arruda; cúpula do partido bateu boca

BRASÍLIA "É um pecado que vamos ter de pagar. Não tem outro jeito", desabafou ontem o vice-presidente do DEM e senador Heráclito Fortes (PI), ao tomar conhecimento do pedido de prisão de José Roberto Arruda. Diante do escândalo nacional que abateu o único governador eleito pelo DEM, Heráclito ainda tentou dividir o prejuízo político com o PT. Destacou que, diferentemente de outras legendas, o DEM não pode ser acusado de omissão.

"Nós não fizemos como outros partidos, que, além de protegerem os acusados de corrupção, agora os reabilitam, colocando-os na direção nacional", atacou o senador, referindo-se à reintegração do ex-ministro José Dirceu ao Diretório Nacional do PT, depois do escândalo do mensalão do governo Lula.

"Demos a Arruda o direito de defesa, mas exigimos sua desfiliação. Nós fizemos tudo o que devíamos neste caso", lamentou Heráclito.

AVISADOS

A cúpula do DEM soube anteontem que Arruda seria preso. Mesmo assim, resistiu à pressão de alguns de seus parlamentares para que fosse dissolvido o diretório do DF. O senador Demóstenes Torres (GO) e o deputado Ronaldo Caiado (GO), entre outros, cobraram providências ao presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ).

Maia decidiu não mexer na política local e Demóstenes não esconde a revolta com a inércia política do comando do DEM. "É uma covardia e uma vergonha. Não aceito isso, eles estão matando o partido", disse. O clima da reunião em que Maia recusou o pedido de dissolução do diretório do DF foi recheado de palavrões e troca de acusações.

Os desdobramentos virão após o carnaval, feriado que Maia pensou ser suficiente para abrandar os ânimos. É provável que o partido aprove a dissolução do diretório regional do DF, mas a decisão será interpretada como uma reação tardia, quando já não seria possível qualquer outra.

A prisão de Arruda vai reverberar na composição de palanques regionais para as eleições presidenciais.

Ao tomar conhecimento do pedido da prisão já em Salvador e ao embalo de uma banda carnavalesca, o líder tucano na Câmara, João Almeida (BA), destacou que a política brasileira tem caráter personalista e individualista. "Isso não é bom, mas acaba diferenciado o partido de seus filiados", explica. "O episódio é devastador para o Arruda, mas não vai contaminar a sucessão presidencial, pela distância física (entre Brasília e São Paulo, onde está o candidato tucano e governador José Serra) e temporal até a eleição."

Apesar desse otimismo, a formação do palanque do candidato tucano está cada vez mais difícil. Com o DEM e o PSDB sem candidatos, Serra corre o risco de virar um franco atirador no Distrito Federal e de ter de subir em um palanque que venha a incluir Joaquim Roriz.

LIGAÇÃO

"Precisamos ter claro que as responsabilidades do governador e do vice estão ligadas", disse o deputado Geraldo Magela (PT-DF), em defesa da tese de que, se um é afastado, o outro (Paulo Octávio) não tem "condições jurídicas nem políticas" de governar. Como a crise também atingiu a Câmara Distrital, o petista sugere a intervenção federal.

"Tenho plena confiança de que só a Justiça resolverá a crise do DF. A decisão do STJ lava a alma da população de Brasília", disse o líder do PSB na Câmara, Rodrigo Rollemberg (DF).