Título: Relatórios questionam avanço dos iranianos
Autor: Kessler, Glenn ; Warrick, Joby
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2010, Internacional, p. A12

Novas avaliações sugerem que problemas técnicos em usinas do país são mais graves do que se pensava; para EUA, Irã está escondendo tecnologia

PROTESTO - Manifestante iraniano exibe caricatura de Obama com estrela de David na testa: EUA estariam sabotando usinas nucleares

THE WASHINGTON POST WASHINGTON Problemas como falhas em equipamentos, falta de competência técnica e até sabotagens podem solapar os planos do Irã de acelerar seu programa nuclear. Segundo ex-funcionários americanos e especialistas, esses problemas devem retardar - embora não paralisar - a marcha do Irã em direção à capacidade de produzir armas nucleares, o que dá aos EUA e seus aliados mais tempo para pressionar por uma solução diplomática sobre o programa nuclear do país.

Relatórios da ONU de 2009 mostraram uma queda na produção da principal usina de enriquecimento de urânio do Irã, a de Natanz. Agora, uma nova avaliação, baseada em três anos de inspeções da ONU, sugere que os problemas técnicos que o Irã vem enfrentando em suas usinas são ainda mais profundos do que se imaginava.

Ao menos até o fim do ano passado, a planta de Natanz parece ter operado tão mal que nem a possibilidade de uma sabotagem pode ser descartada, segundo estudo de David Albright, presidente do Institute for Science and International Security (ISIS). Mais da metade das 8.700 centrífugas da usina estava ociosa no fim de 2009 e o número de centrífugas em operação caiu de 5.000, em maio, para 3.900, em novembro.

Além disso, a produção das instalações ativas foi metade da esperada, segundo o relatório, que usou dados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU. Outra análise, a ser divulgada pela Federação de Cientistas Americanos, também destaca o fraco desempenho do programa nuclear do Irã. "Eles estão com dificuldade de reproduzir uma tecnologia europeia de meio século atrás", disse Ivan Oelrich, um dos diretores da federação.

Para algumas autoridades, porém, a aparente queda na produção de urânio iraniana pode ser uma farsa - uma tentativa de disfarçar seus avanços até estar pronto para testar uma bomba nuclear. Teerã admitiu, em 2009, que construiu uma usina nuclear secreta no interior de uma montanha perto da cidade de Qom. A suspeita é que haja outros locais secretos.

"As medições da AIEA em Natanz são precárias e passíveis de manipulação", disse um ex-funcionário americano, que já monitorou o programa nuclear do Irã. Para ele, a AIEA acabará "notando que Teerã está escondendo a sua produção (de urânio enriquecido)".

O estudo do ISIS diz que, quando começou a operar, a usina de Natanz superou as expectativas de produção. Em algum momento entre o fim de 2008 e o início de 2009, porém, a produção caiu de 90 para 70 quilos por mês. Houve uma melhora depois disso, mas a produção nunca voltou ao nível de 2008, apesar da instalação de mais centrífugas. No fim de 2009, as 3.900 máquinas listadas como funcionais geravam metade da quantidade esperada de urânio enriquecido.

Nem o Irã nem a AIEA registraram a queda da produção da usina e autoridades americanas não quiseram especular sobre as suas razões. O relatório do ISIS atribui essa queda ao fato de o projeto da usina ser ruim e ter sido implementado com pressa.

"O Irã instalou as centrífugas muito rapidamente e pode não ter desenvolvido a competência para operá-las de maneira adequada", diz o relatório, que não descarta a hipótese de sabotagem. "Agências de inteligência americanas tentam introduzir equipamentos defeituosos ou adulterados pelas redes de contrabando do Irã."