Título: Criam chifre na cabeça de cavalo, diz presidente sobre Comissão da Verdade
Autor: Maia, Lucas de Abreu; Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2010, Nacional, p. A8

Ao comentar as críticas ao Programa Nacional dos Direitos Humanos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que "de vez em quando as pessoas criam chifre na cabeça de cavalo". "O que está criando caso é a Comissão da Verdade. Não há por que ninguém ter medo de a gente apurar a verdade da história do Brasil. Você pode fazer da forma tranquila e pacífica que estamos fazendo. Não se trata de caça às bruxas", afirmou Lula em entrevista à TV Mirante, em viagem ao Maranhão.

O presidente também criticou a "elite brasileira". Questionado sobre o Bolsa-Família, Lula afirmou: "O crescimento da economia e a geração de renda permitem que pessoas deixem de receber o Bolsa-Família e vão trabalhar. Esse é o meu sonho e o de quem está recebendo. Agora, não me venham com preconceito. Uma parte da elite brasileira é muito preconceituosa."

Segundo Lula, "a elite paulista" foi contra as férias de 15 dias, na década de 40, porque a ociosidade "levaria o trabalhador a uma bebedeira". O presidente classificou de "uma cretinice de quem não conhece o povo brasileiro" dizer que os beneficiários do programa preferem receber os recursos a trabalhar

QUEDA DE BRAÇO

A divulgação do plano, no final do ano passado, gerou crise entre os ministros Nelson Jobim (Defesa) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) e contrapôs dois lados envolvidos na discussão: os militares, que temiam a criminalização de atos praticados na ditadura militar, e os familiares dos desaparecidos, que pediam a responsabilização pela morte dos militantes de esquerda.

O plano, segundo o presidente, "trata apenas de pegar 140 pessoas que ainda não encontraram seus parentes para que possam ter o direito de encontrar o cadáver e enterrar".

De acordo com Lula, todos os temas que constam do programa foram debatidos em conferências setoriais por todo o País. "São milhares de pessoas que elaboraram o programa dos seus sonhos, às vezes divergentes entre eles", disse. O presidente afirmou ainda que uma parte do que consta do plano pode "ser transformada em lei, e outra fica no programa".