Título: UE declara apoio à Grécia, mas queda do euro continua
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2010, Economia, p. B8

Meras declarações políticas, sem detalhes da ajuda aos gregos, não satisfazem investidor e bolsas também caem

Em um apoio permeado de condicionalidades, a União Europeia (UE) se compromete a tomar medidas para manter a estabilidade na zona do euro e não deixar a Grécia quebrar. Mas faz novas exigências aos gregos e, por enquanto, não oferece nem dinheiro nem estratégia clara sobre como vai atuar.

Sem detalhar o plano de resgate, a UE não conseguiu convencer os mercados de que o pior já passou e não há risco de default. O resultado foi a ampliação da desvalorização do euro.

"Os membros da zona do euro tomarão medidas determinadas e coordenadas, se for necessário, para garantir a estabilidade financeira da zona do euro em seu conjunto", diz a declaração da cúpula dos 27 países do bloco europeu, encerrada ontem. O encontro tinha como objetivo tratar de estratégias de longo prazo para a Europa, mas acabou dominado pela crise da dívida grega.

A UE deixa claro que a responsabilidade pela estabilidade é de todos e que confia na capacidade do governo grego em dar uma resposta à crise. Mas, em troca do apoio e das declarações públicas, os europeus exigiram de Atenas " medidas rigorosas".

Em troca, os gregos garantiram que reduziriam seu déficit público de mais de 12% do PIB para menos de 3% em três anos. Segundo a UE, a Grécia "não pediu" ajuda financeira durante a cúpula. Mas, por exigência de Berlim, três entidades vão passar a monitorar o país a partir de agora: o Banco Central Europeu (BCE), a Comissão Europeia e até o FMI.

"O que fizemos foi dar uma mensagem política forte", afirmou o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy. " Trata-se de um acordo de duas vias. De um lado, há a solidariedade da UE em ajudar, caso necessário ? hoje posso dizer que não há necessidade. De outro, a responsabilidade do governo grego em adotar seu plano de austeridade", explicou.

Como o Estado antecipou na edição de ontem, os detalhes ficarão para segunda-feira, quando os ministros de Finanças da UE se reúnem mais uma vez para tentar decidir de que forma o apoio poderá ocorrer.

A opção mais citada por diplomatas é que bancos estatais, principalmente alemães, obtenham fundos para comprar bônus emitidos pelos gregos. Ainda ficou acertado que o FMI daria um apoio "técnico", mas não injetaria recursos. Para a UE, a credibilidade do euro estaria em jogo se isso fosse feito.

Legalmente, a UE não está autorizada a socorrer financeiramente um país. Politicamente, líderes europeus não querem mostrar que dariam um pacote para qualquer país em dificuldade, sob o risco de abrir um perigoso precedente.

REAÇÃO

Mas, demonstrando desconfiança em relação às declarações políticas da UE, os mercados mantiveram as apostas contra o euro, que ontem perdeu 0,9%. Para o banco UBS, a queda foi causada pela decepção do mercado com a falta de anúncios concretos. "As pessoas estão desapontadas", disse Brian Kim, estrategista do banco.

Nas bolsas, o índice pan-europeu Dow Jones Stock 600 fechou em alta de 0,4%. A Bolsa da Espanha caiu 1,6%; a de Frankfurt, 0,5%; e a de Paris, 0,6%. Londres, que não faz parte da zona do euro, fechou em alta de 0,6%.

As autoridades europeias optaram por criticar a reação dos mercados. "É muito cedo para julgar esse acordo. Esse acordo traduz uma vontade política que será executada agora", disse Rompuy. O FMI também apoiou o acordo de ontem, indicando que se tratava de uma medida "importante".

"A confiança política e a solidariedade é fundamental para os mercados", defendeu a chanceler alemã, Angela Merkel. "A Grécia não está só e está comprometida com seus esforços: essa é a reposta da UE."

" Estamos dando um sinal político preciso, forte e sem ambiguidade: a Grécia faz parte da UE, da zona do euro, e nós a apoiamos ", afirmou Nicolas Sarkozy, presidente francês.

Mas tanto ele como Merkel se recusaram ontem a responder perguntas sobre como seria a intervenção. Para Sarkozy, é necessário tempo para avaliar a evolução da situação e "calibrar a modalidade" da ajuda. Ele ainda defende que se dê tempo para que os gregos comecem a implementar suas propostas.

O governo alemão, que teme ser criticado por seus contribuintes por estar financiando um Estado quebrado, foi quem exigiu o triplo monitoramento da Grécia. Na segunda feira, os ministros de Finanças da UE ainda poderão fazer novas propostas de cortes de gastos na Grécia, com "medidas adicionais de ajuste". O FMI poderá ajudar nessa questão.

Uma das propostas que deve ser aprovada é o aumento de impostos na Grécia, algo que o governo vinha se recusando a fazer. Mas Merkel insistiu que isso deveria fazer parte do ajuste, além do congelamento de salários e fim de benefícios. Na Grécia, trabalhadores alertam que não pagarão pelo ajuste do Estado e voltarão a fazer greve na semana que vem.