Título: Indefinição sobre novas medidas derruba o euro
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2010, Economia, p. B1

União europeia cobra ajustes, mas governo grego refuta pressão

A União Europeia insiste em medidas adicionais da Grécia no corte de seus gastos, mas o governo grego resiste a aceitar novos ajustes. O braço de ferro entre Bruxelas e Atenas criou um mal-estar entre ministros de finanças da zona do euro que iniciaram ontem reuniões para debater a crise. Atenas quer saber exatamente qual é o plano de resgate que Bruxelas tem antes de aceitar novas exigências de redução de orçamento.

A indefinição levou o euro a uma nova queda ontem em relação ao dólar, fechando quase em seu nível mais baixo em nove meses. A esperança do mercado é que os ministros deem hoje uma indicação do caminho que estão percorrendo e que pelo menos a UE explicite o que exatamente quer como medidas extras por parte de Atenas.

O governo grego prometeu reduzir seu déficit de 12,7% do PIB para apenas 3% em 2012. Para 2010, a taxa já cairia para 8,7%. Para isso, medidas como congelamento de salários, aumento da idade mínima de aposentadoria e outras medidas foram tomadas.

O risco de não conseguir refinanciar sua dívida gerou novas turbulências no mercado. Na semana entre o dia 5 e 9 de fevereiro, a aposta de especuladores sobre o euro atingiu uma marca recorde.

Na semana passada, os líderes da UE deram seu apoio político aos gregos. Mas agora fazem novas exigências e alertam que "os riscos estão se materializando". O novo comissário de Assuntos Econômicos da UE, Olli Rehn, deixou claro que será muito provável que a Grécia tenha de adotar novas medidas para obter os resultados que espera.

" Esperamos que o governo grego adote as medidas adicionais necessárias para alcançar o objetivo", disse. "Há motivos claros para adotar medidas adicionais".

Os alemães, que não querem bancar sozinhos um pacote para a Grécia, também adotam a cautela. O ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, indicou ontem que precisava dar "uma olhada fresca" nos compromissos gregos.

O ministro austríaco, Josef Proll, também fez o alerta: "Se as medidas não forem suficientes, Atenas terá de fazer mais". Entre as propostas que estão sendo estudadas pelos ministros e que podem ser anunciadas hoje estão novos cortes de gastos públicos, aumento no imposto sobre valor agregado e alta das taxas sobre bens de luxo e energia.

"Cabe à Grécia provar a seus sócios que o plano de ajuste será suficiente", afirmou Jean Claude Juncker, presidente do Eurogrupo (bloco dos 16 países que usam a moeda única). Segundo ele, se em março na primeira sabatina que a Grécia passar ficar claro que as medidas não são suficientes, medidas extras terão de ser tomadas.

O governo grego rejeitou a nova pressão e ainda indicou que a promessa política de ajuda feita pela UE na semana passada não seria suficiente para frear a crise. O ministro de Finanças da Grécia, George Papaconstantinou, defendeu seu plano de ajustes e descartou medidas adicionais. "Estamos tentando mudar o percurso do Titanic. mas isso não pode ser feito em um dia", alertou. Os gregos preferem qualificar o problema apenas como resultado de um ataque especulativo por parte dos mercados. Para os gregos, um pacote de ajuda primeiro precisaria ser indicado, para que o governo possa convencer a opinião pública de que um novo ajuste é justificado.