Título: Dilma é convocada pelo Senado
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2010, Nacional, p. A4

Ministra terá de falar sobre Plano de Direitos Humanos

BRASÍLIA

Depois de blindar com certo sucesso a ministra Dilma Rousseff do desgaste provocado pela edição do Programa Nacional de Direitos Humanos, o governo sofreu ontem uma derrota no Congresso que colocará a pré-candidata do PT à Presidência sob a mira da oposição. Num cochilo, a base aliada no Senado deixou a oposição aprovar a convocação para que Dilma fale sobre o assunto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O objetivo é claro: debitar na conta da ministra o ônus político do plano, que desagradou de militares a ruralistas.

A estratégia da oposição estava armada desde a noite anterior. Senadores do DEM e do PSDB chegaram cedo à reunião e esperaram a base aliada abandonar a sala pouco a pouco até garantir maioria na comissão. Quando restavam três senadores governistas na sala, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) apresentou o requerimento e pediu a inversão da pauta. A manobra permitiu ao presidente da comissão, Demóstenes Torres (DEM-GO), colocar o pedido em votação de imediato.

Assessores dispararam ligações para os senadores governistas retornarem à comissão, mas Demóstenes anunciou que apenas um parlamentar do governo e um da oposição teriam a chance de discutir o requerimento. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ainda caprichou no vagar do discurso para garantir o quórum, mas o placar acabou em 9 votos a 7 pela convocação da ministra para falar sobre o plano ao colegiado.

O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), anunciou que recorrerá contra a votação, para tentar anular a convocação da ministra. Mercadante disse que o assunto está vencido, chamou a manobra da oposição de "desespero eleitoral" e acusou os adversários de desrespeitar costumes adotados no Senado, como a de convidar os ministros, nunca convocar, como foi feito com a ministra. Na condição de convidada, ela poderia recusar. Como convocada, não.

De volta à comissão, ele pediu a palavra como líder, mas foi impedido de falar por Demóstenes. "Como líder, a palavra não pode ser utilizada. É limitado ao signatário do requerente e um representante de cada bloco partidário, o que já ocorreu", afirmou o presidente do colegiado, pouco antes de pôr o texto em votação.

"O governo está tentando esconder essa aberração, mas nós queremos fazer a autópsia", disse Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura, sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos.