Título: Logística deve triplicar investimento
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2010, Economia, p. B3

Para BNDES, apesar de energia e telecomunicações consumirem mais recursos, maior salto será na logística

Dentro do novo quadro de investimentos em infraestrutura no Brasil, o economista Gilberto Borça Jr., do BNDES, destaca que, apesar da manutenção do protagonismo de energia elétrica e telecomunicações, o País deverá experimentar um salto mais alto nos investimentos em logística. Só na área de portos, o BNDES prevê que os investimentos praticamente vão triplicar, passando dos R$ 5 bilhões aplicados entre 2005 e 2008 para R$ 14 bilhões entre este ano e 2013, um aumento de 203%. Na mesma comparação, o investimento em ferrovias deve aumentar 81,7%, impulsionado pelo projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV) ligando Rio e São Paulo, cujo edital está em preparação.

Para Borça Jr., o movimento em torno desses setores está ligado à definição de novos marcos regulatórios e concessões. Ele destaca ainda o crescimento de 77,1% nos recursos para saneamento em relação ao quadriênio anterior. "No fim de 2009, o marco regulatório definido de portos deu mais horizontes para o setor. No saneamento, a iniciativa privada também está entrando e deve ficar com 30% a 40% do investimento de R$ 39 bilhões previsto para esse setor."

Fernando Puga, também do BNDES, cita as novas etapas dos programas federal e do Estado de São Paulo de concessões de rodovias como principais indutores dos investimentos de R$ 33 bilhões estimados para o transporte rodoviário até 2013, que deve crescer 7,8% ao ano. "O que vemos para os investimentos em infraestrutura é o setor público atuando como um indutor dos investimentos privados, realizando leilões e concessões", afirmou o economista. O estudo do BNDES não estimou que porcentual dos investimentos estimados deverão sair dos cofres públicos.

PREVISÃO MENOR

Apesar de traçar um cenário de incremento da infraestrutura, diante da perspectiva de um novo ciclo de crescimento da economia acima de 5% ao ano, a nova projeção do BNDES de R$ 274 bilhões em investimentos para o segmento é mais modesta do que os R$ 338,5 bilhões que o banco havia estimado no ano passado para o intervalo 2009-2012. O trabalho anterior indicava taxa de crescimento de 12,8% ao ano para a infraestrutura naquele período. Agora, a estimativa é de 6,3% ao ano entre este ano e 2013.

Fernando Puga justifica a diferença admitindo que o banco pode ter superestimado os investimentos em energia elétrica em 2009, já que vários projetos sofreram atrasos, mas diz que, no longo prazo, a crise praticamente não alterou as perspectivas para o setor, que exige planejamento extenso. Além disso, diz, o BNDES adotou critérios mais rígidos para incluir projetos na conta do mapeamento que faz há cinco anos, a partir das informações de órgãos governamentais e empresas colhidas por seus departamentos.

Segundo Puga, a crise financeira mundial não afetou os projetos de infraestrutura, que respondem por cerca de 10% do investimento total da economia. Para ele, mesmo mais modesta agora, a previsão de expansão da infraestrutura ainda indica investimentos capazes de dar suporte ao crescimento. "Na parte de energia elétrica, por exemplo, as informações de órgãos como a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) são de que este investimento viabiliza o crescimento da demanda."

No entanto, o estudo mostra que o baque sentido no setor industrial, principalmente o exportador, aumenta a responsabilidade do governo de estimular investimentos no segmento para dar competitividade à economia e estimular outros setores. "A crise foi uma descontinuidade, mas não alterou a trajetória de crescimento do investimento na economia. Apenas adiou em dois anos a chegada da formação bruta de capital fixo a 21% do PIB. Achamos que ela não cairia em 2009, mas erramos. Esse patamar só ocorrerá em 2011", diz Puga.