Título: Petrobrás recupera poder com compra da Quattor pela Braskem
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2010, Economia, p. B7

Embora crie um monopólio, especialistas avaliam que operação deve reduzir custos dos insumos no Brasil

RIO

Prestes a ser anunciada, a incorporação da Quattor à Braskem será o passo definitivo do processo de retorno da Petrobrás ao setor petroquímico, cinco anos após a virada promovida pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva. Um passo que não estava previsto no projeto original, mas que, para a direção da estatal, garante ao Brasil musculatura na briga com as gigantes internacionais. Para especialistas, embora crie um monopólio, a operação pode desatar nós da petroquímica brasileira, como conflitos societários e falta de competitividade dos insumos.

A proposta original era manter dois grandes grupos, um capitaneado pela Odebrecht, controladora da Braskem, e outro que consolidaria os ativos do Sudeste, cujo parceiro preferencial acabou sendo a Unipar. Em paralelo, a Petrobrás projetou uma série de ampliações da capacidade produtora de matérias-primas, além de iniciar três grandes investimentos na produção de resinas: a Petroquímica Paulínia S.A. (PPSA), com a Braskem, a Petroquímica Suape, inicialmente com a Vicunha, que acabou desistindo do negócio, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), ainda sem parceiros.

O retorno da Petrobrás à petroquímica, uma década após a venda de grande parte dos ativos da estatal no setor pelo governo Fernando Collor de Mello, foi coordenado pela então ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff com o objetivo de garantir a retomada dos investimentos - não havia sequer um projeto de expansão em 2003, lembra o diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. A estratégia de escolher parceiros teve como objetivo evitar críticas sobre uma possível reestatização.

Dos novos investimentos, porém, apenas a PPSA tem parceiro privado - a própria Braskem, na qual a estatal tem uma participação de 25%. Internamente, a companhia construiu três unidades de propeno em suas refinarias, que garantiram a expansão da Petroquímica União (PQU), na época controlada pela Unipar, e o abastecimento de outros clientes. Em Suape, com a saída da Vicunha, a estatal negocia um novo sócio. Já no Comperj ainda não apareceram propostas firmes de parceria.

No mercado, comenta-se que não há empresas dispostas a dividir os vultosos investimentos do Comperj, que superam os US$ 8 bilhões. Em entrevista ao Estado no fim do ano, Costa garantiu que ainda negocia com diversos investidores para compartilhar as plantas de segunda geração, que produzem a matéria-prima para a indústria. Enquanto isso, diz o executivo, a estatal toca as obras da refinaria que é parte do projeto, com capacidade para processar 150 mil barris de óleo pesado da Bacia de Campos por dia.

A criação da Nova Braskem, empresa resultante da incorporação da Quattor, deve resolver esse problema. Costa não garantiu a participação da companhia no Comperj, mas admitiu que o projeto terá "um novo arranjo" após a operação. A própria Braskem já demonstrou interesse em participar da nova central e, segundo fontes próximas, a questão está presente na negociação sobre a consolidação dos ativos petroquímicos.

Para o especialista Otávio Carvalho, sócio da consultoria Maxiquim, esse é um dos aspectos positivos da operação em negociação entre Odebrecht e Petrobrás. Embora alerte para os riscos naturais de um monopólio, ele diz que a criação de uma grande empresa com controle compartilhado com a estatal pode destravar os investimentos necessários para a competição em nível global. Na avaliação da Maxiquim, em 10 anos, o Brasil poderá assumir papel relevante na petroquímica mundial - hoje, produz pouco menos de 4 milhões de toneladas de resinas.

"O crescimento da produção nacional de petróleo, com o pré-sal, e da capacidade de refino, garantem as bases para investimentos em ampliação da petroquímica." Processo que, pelo modelo atual, estaria travado em disputas societárias e, principalmente, na falta de competitividade da nafta brasileira, matéria-prima para as resinas. Como sócia importante na Nova Braskem, a Petrobrás poderá arbitrar melhor suas margens ao longo da cadeia, garantindo insumos competitivos.

"Do jeito que está hoje, até pode haver novos projetos, mas voltados apenas para o mercado interno", aponta o especialista. O governo Lula, por sua vez, já deixou claro que pretende agregar valor, no Brasil, ao petróleo do pré-sal, exportando matérias-primas mais elaboradas em vez de óleo cru. A ampliação do parque petroquímico, portanto, teria como objetivo absorver produtos de refinarias que não são usados na produção de combustíveis. A expectativa é que novos polos petroquímicos sejam construídos no entorno das refinarias premium projetadas para o Ceará e para o Maranhão.

Costa, da Petrobrás, vê o movimento como parte de uma tendência mundial de deslocamento da produção petroquímica para países emergentes. Unidades americanas e europeias, já obsoletas, deixarão de operar, abrindo mercado para novos polos. "Esses países têm problemas ambientais sérios, não comportam novas unidades. Países como Brasil, China, Arábia Saudita e Índia vão suprir a lacuna", diz. Ele defende a criação de uma gigante petroquímica nacional, que possa competir nesse novo cenário. "Hoje não tem petroquímica com mercado local. Petroquímica é mercado mundial".