Título: Investimento desata nó da indústria
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2010, Economia, p. B3

Novos aportes estão concentrados nos setores que operam no limite da capacidade e aliviam a pressão inflacionária

Os investimentos no aumento da capacidade de produção da indústria previstos para este ano estão voltados aos setores certos. Isto é, para os bens de consumo duráveis, que reúnem a cadeia da indústria automobilística, os eletrodomésticos e eletrônicos, segmentos nos quais a oferta de itens está cada dia mais apertada para atender ao aumento do consumo, do crédito e da renda. O movimento para ampliar a capacidade de produção desses setores reduz, a médio prazo, o risco de gargalos na oferta e de pressões inflacionárias.

Isso é o que indica um cruzamento entre os dados do Nível de Uso da Capacidade da Indústria (Nuci) em dezembro de 2009 e a intenção de investimento da indústria para este ano feito a pedido do Estado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com base em sondagens industriais. Com o uso da capacidade instalada da indústria evoluindo rapidamente no pós-crise, a intenção de ampliar os investimentos na produção reagiu.

O Nuci encerrou 2009 em 83,8%, um índice apenas 2,9 pontos porcentuais abaixo do recorde do indicador atingido em junho de 2008 (86,7%). Em contrapartida, quase metade das indústrias (48%) planeja aumentar os investimentos neste ano, ante 41% em 2009. "Se realmente esses investimentos se confirmarem há condições de atender à demanda, que deve continuar aquecida" , afirma o coordenador técnico das sondagens industriais da FGV, Jorge Ferreira Braga.

Puxado pela indústria automobilística e os eletroeletrônicos, o Nuci dos bens duráveis de consumo atingiu 91% em dezembro, nível considerado preocupante. Mas 58% das indústrias do setor querem ampliar investimentos neste ano. É o maior resultado da série histórica de intenção de aumento de investimento para bens duráveis.

Quando se avalia os resultados por segmentos, observa Braga, o quadro é ainda mais favorável para um cenário sem restrições de oferta e aumentos de preços. Apenas três de nove segmentos industriais pesquisados estavam no fim de 2009 com o Nuci maior que no período pré-crise (julho de 2008). São eles produtos farmacêuticos (72,9%), matérias plásticas (86,3%) e calçados e vestuário (87,1%). Estes segmentos também estão entre os maiores índices de intenção de aumento dos investimentos.

De acordo com a sondagem, oito de nove segmentos pesquisados registraram porcentual maior de empresas interessadas em ampliar os investimentos para este ano. A maior fatia de indústrias interessadas em aumentar o investimento neste ano foi encontrada nos materiais de transporte, com 71% das empresas nessa condição, seguida pelo segmento de material elétrico e de comunicações (59%) e produtos de matérias plásticas (52%).

No caso da indústria mecânica, que produz basicamente máquinas, houve aumento 13,6 pontos porcentuais no Nuci em 2009, com 42% das companhias interessadas em ampliar investimento em 2010, aponta a FGV. A indústria mecânica foi uma das que tiveram uma das maiores taxas de crescimento entre os financiamentos aprovados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2009, com 59,1% em valor e 53,4% no total de operações ante 2008.

"O avanço nos bens de capital é salutar e contribui para aumentar a capacidade de produção de outros setores com menos pressão inflacionária", diz o chefe do departamento econômico do BNDES, Fernando Puga. Apesar do avanço nas intenções de investimento na indústria, o economista chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, pondera que o tempo médio para que ele mature e se transforme em aumento de capacidade é de 14 meses. "O tempo de maturação do investimento é uma preocupação e pode gerar gargalo na oferta no curto prazo."