Título: Ataque dos EUA mata 21 civis no Afeganistão
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2010, Internacional, p. A14

Vítimas foram confundidas com 'insurgentes em fuga', diz Otan; general americano que lidera forças internacionais pede desculpas a Karzai

Pelo menos 21 civis morreram ontem em um ataque aéreo americano na Província de Uruzgan, centro do Afeganistão. A tragédia revoltou o governo afegão. Há duas semanas, a Otan conduz uma ampla ofensiva contra o Taleban na vizinha Província de Helmand e, segundo o Pentágono, soldados em helicópteros confundiram civis - que seguiam em um comboio de carros - com insurgentes.

"As repetidas mortes de civis são injustificáveis", protestou o presidente afegão, Hamid Karzai, em comunicado. "Condenamos fortemente essa ação."

Segundo relatos, 42 civis viajavam numa estrada quando foram atacados. Forças especiais dos EUA pensaram que o grupo era de "insurgentes a caminho de uma operação". Autoridades afegãs afirmam que 4 mulheres e 1 criança estão entre os mortos, e o número de vítimas pode chegar a 27.

O novo acidente constrangeu os EUA e a Otan. O general Stanley McChrystal, comandante das forças internacionais no Afeganistão, foi obrigado a pedir desculpas a Karzai. "Deixei claro às nossas forças que estamos aqui para proteger o povo afegão. Mortes e ferimentos de civis comprometem a confiança em nossa missão", disse. "Redobraremos os esforços para conquistar essa confiança."

De Washington, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, ligou para Karzai e apresentou "sentidas condolências". O bombardeio foi a pior tragédia envolvendo civis no Afeganistão desde setembro, quando aviões da Otan atingiram caminhões-tanque, matando 142 pessoas. Na última semana, 12 civis foram mortos acidentalmente no início da ofensiva na Província de Helmand.

Batizada de Mushtarak ("juntos", no dialeto dari), a ofensiva em curso contra o Taleban reúne mais de 15 mil soldados e é tida como o grande teste da nova estratégia militar aliada no Afeganistão.

Estrategistas dos EUA afirmam que o principal objetivo é garantir a segurança de civis, conquistando a confiança da população para que insurgentes percam sua base de apoio. Assim, as mortes de civis são duro golpe nos esforços da Otan.

A notícia da morte de civis pode ter consequências devastadoras na Holanda, oficialmente responsável pela região onde ocorreu a tragédia. No fim de semana, o governo da Holanda foi dissolvido por causa de discórdias sobre a extensão da missão holandesa no Afeganistão.

BIN LADEN

Também ontem, um militante matou 15 pessoas ao detonar os explosivos que carregava em uma reunião em Jalalabad. Entre os mortos está Haji Zaman, que teria fracassado em impedir a fuga de Osama bin Laden nas montanhas de Tora Bora.