Título: Lactantes não devem ser vacinadas contra febre amarela, diz ministério
Autor: Lordelo, Carlos ; Leite, Fabiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2010, Vida&, p. A16

Imunização deve ser adiada até bebê completar 6 meses; duas crianças ficaram doentes após mãe receber dose

Nova recomendação do Ministério da Saúde orienta mulheres que estão amamentando a adiar a vacinação contra a febre amarela até a criança completar seis meses. De acordo com a pasta, há risco de os bebês serem contaminados pelo vírus atenuado da doença, usado na fabricação do imunizante.

Caso não seja possível adiar, o ministério recomenda que as mães retirem o próprio leite antes da imunização e o congelem para uso durante os 14 dias subsequente à vacina, quando o vírus atenuado ainda pode estar presente no alimento. Outra alternativa é recorrer a bancos públicos de leite materno.

As alterações nas orientações para quem está amamentando ocorreram em razão de o Brasil ter registrado, pela primeira vez na história, dois casos em que mães vacinadas contra a doença transmitiram às crianças, por meio do aleitamento, o vírus atenuado.

Os dois bebês, que apresentaram problemas neurológicos, no momento estão bem, mas seguem sob acompanhamento das autoridades de saúde.

Atualmente existe recomendação para a vacina na maior parte do País, em razão de o vírus causador da doença ter se expandido entre 2008 e o ano passado no Sudeste, Sul e Centro-Oeste do País.

Um total de 51 casos da doença foram registrados no período, com 21 mortes, e 22,4 milhões de vacinas foram distribuídas. Desde 2007, 112 casos de reações adversas ao imunizante, como as que ocorreram com as crianças, já foram computados pelo ministério. A vacina é fabricada desde o fim dos anos 30 pelo laboratório público Biomanguinhos, da Fiocruz.

As duas notificações de contaminação por meio do leite ocorreram em Porto Alegre e na cidade de Cachoeira do Sul, a 196 km da capital gaúcha.

Segundo informou ao Estado Maria Tereza Schermann, coordenadora de imunizações da Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul, as crianças chegaram à emergência dos hospitais nos meses de abril e maio do ano passado apresentando quadro de encefalite (infecção do encéfalo) convulsões e febre baixa.

Os pediatras, após avaliar o quadro, notificaram a suspeita. A partir dali começava uma investigação que culminou com a publicação, em 14 de janeiro deste ano, de uma nota técnica pelo ministério restringindo a vacinação durante a amamentação.

"Não houve identificação de nenhuma alteração na vacina, nada foi imputado à vacinação", destacou a especialista. Ela atribui o problema a características individuais das crianças. Procurado, o ministério não se manifestou ontem.

"O conhecimento sobre a vacina vem crescendo desde os anos 90. Isso também é um alerta para buscarmos alternativas", afirma o epidemiologista Expedito Luna, do Instituto de Medicina Tropical da USP. Atualmente há estudos sobre vacinas com uma concentração menor de vírus atenuado.

Ontem, a reportagem ligou para 10 dos 73 postos de vacinação contra a febre amarela da capital paulista. Em seis deles, recebeu a informação de que não haveria contraindicação para a imunização de mães que estão amamentando.

A Prefeitura informou que a nota já está disponível para consulta no site do órgão. Já o ministério disse que os Estados foram comunicados no mês passado. No entanto, em São Paulo, nenhuma autoridade de saúde divulgou a informação sobre a restrição à imprensa nos últimos dias.

SAIBA MAIS

O que é a febre amarela: Doença infecciosa, de gravidade variável e com até 12 dias de duração

Transmissão: Pela picada de mosquitos transmissores infectados - insetos silvestres ou urbanos, como o Aedes aegypti. Não há transmissão entre pessoas

Sintomas: Febre, dor de cabeça, calafrios, náuseas, vômito, dores no corpo, icterícia e hemorragias

Tratamento: Não há remédio, apenas se controlam os sintomas

Prevenção: Vacina é gratuita nos postos de saúde. É administrada em dose única a partir dos 9 meses e tem validade de 10 anos

Quem deve se vacinar: Moradores ou pessoas que viajam para áreas consideradas de risco