Título: Envolvido no mensalão do DEM, Paulo Octávio renuncia no DF
Autor: Nogueira, Rui ; Pires, Carol
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2010, Nacional, p. A4

Vice de Arruda, que também se desfiliou do partido, atribui decisão ao abandono político a que foi relegado

Depois de redigir duas cartas de renúncia no espaço de uma semana, o governador em exercício Paulo Octávio afastou-se ontem do comando do Distrito Federal. Envolvido no escândalo do "mensalão do DEM" e isolado pelo próprio partido, Paulo Octávio disse "não ser possível governar sangrando em praça pública". Com a renúncia, assumiu o deputado distrital Wilson Lima (PR), tornando-se o terceiro governador a ocupar o posto em menos de duas semanas.

A decisão de renunciar estava tomada desde quinta-feira. Na mensagem de renúncia, lida pelo presidente da Câmara, Cabo Patrício, do PT, Paulo Octávio afirma que sua decisão se deveu, em parte, à pressão do DEM, que não lhe garantiu sustentação política. Poucos minutos antes de deixar o governo, Paulo Octávio pediu desfiliação da legenda. Na semana passada, o vice redigira uma primeira carta de renúncia, mas recuou, imaginando que conseguiria construir sua sustentação. Não conseguiu.

O DEM pediu a seus filiados que abandonassem os cargos que ocupavam no governo do DF logo após o governador eleito, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), ter sido preso pela Polícia Federal, no último dia 11, por obstrução às investigações sobre o esquema de corrupção local do qual ele seria chefe e Paulo Octávio beneficiário. Segundo Paulo Octávio, a indisposição dos outros partidos em fazer parte de um governo de "coalizão" também foi determinante para a renúncia.

"Permanecer no cargo, nas circunstâncias que chamei de excepcionais, exigiria a criação de condições também excepcionais. Imprescindível contar com apoio político suprapartidário para que todas as forças vivas do DF, juntas, pudessem superar a perspectiva de intervenção federal. E, não menos importante, teria que receber respaldo de meu partido", afirma Octávio na carta (veja íntegra abaixo).

Com o quadro de quase acefalia, cresce a possibilidade de que a intervenção federal na capital seja autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Para evitar isso, logo após a leitura da renúncia do vice-governador, o deputado Wilson Lima, que já trabalhou como vendedor de picolés, frentista, mecânico, funileiro, pintor, balconista e cobrador de ônibus, pediu licença do cargo de presidente da Câmara Legislativa e assumiu o governo do Distrito Federal. Como Arruda, apesar de preso, ainda é o governador eleito, Lima ficará interinamente no comando do DF. Caso Arruda renuncie ou tenha o mandato cassado, a lei orgânica do Distrito Federal estabelece que o presidente da Câmara deve renunciar ao cargo de deputado distrital e ficar como governador efetivo até o fim do mandato, que termina este ano.

Lima afirmou, em nota à imprensa, que assumirá o cargo com "serenidade, humildade e muita reflexão" e sem "mudanças bruscas". Sem apoio político, também terá dificuldades em se manter no cargo.

"NORMALIDADE"

No afã de mostrar à Justiça que a Câmara está cumprindo suas funções, ainda que o governo do DF esteja em colapso, os deputados decidiram abrir processo disciplinar contra os 8 parlamentares citados no inquérito da Operação Caixa de Pandora como beneficiários do esquema de propina. O parecer do corregedor, Raimundo Ribeiro (PSDB), será pelo prosseguimento dos processos.

Dos oito deputados distritais investigados, três devem renunciar antes de ser intimados pelo Comitê de Ética: Leonardo Prudente (sem partido, ex-DEM), Eurides Brito (PMDB) e Júnior Brunelli. A situação dos três é considerada mais grave porque não foram apenas citados no inquérito. Vídeos que os mostram recebendo dinheiro da suposta propina foram veiculados à exaustão pela imprensa. Prudente coloca maços do dinheiro nos bolsos do paletó e das meias. Eurides, numa grande bolsa feminina. E Brunelli participa da "oração da propina" após receber dinheiro.