Título: Não é possível governar sangrando em praça pública
Autor: Nogueira, Rui
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2010, Nacional, p. A7
Paulo Octávio: ex-governador do Distrito Federal. Vice de Arruda diz que renunciou porque, sem apoio, teria "governo fraco" e descarta hipótese de intervenção no DF
Paulo Octávio admite que pode ter batido um recorde político ao assinar duas cartas de renúncia em um só dia, mas não descarta voltar à disputa do governo do DF. Disse que renunciou porque, sem apoio político, daria um "governo fraco". Avalia que a intervenção federal no DF está descartada. Ele falou com o Estado minutos antes de a assessoria dele confirmar a renúncia ao governo.
O senhor, em um único dia, enterrou a possibilidade de ser governador do DF e deixou o partido que ajudou a fundar. Definitivamente, tem algo de errado com os 20 anos de autonomia política de Brasília e com a forma como o poder é exercido na capital. Certo?
Fiz duas cartas de renúncia em um dia. Jamais imaginei que isso pudesse acontecer na minha vida. Não encontrei condições mínimas de governabilidade para assumir o Distrito Federal. Apesar de tudo, ainda acho que o tempo mostrará que estávamos fazendo o melhor governo de Brasília. Nestes 20 anos, Brasília cresceu muito e se consolidou como capital.
Como é que o sr. pode dizer que um governo é bom, pedindo que a população aplauda as obras e esqueça as imagens de secretários e políticos flagrados embolsando pacotes de dinheiro de caixa um, caixa dois, caixa três?
Essa é uma questão eleitoral. É preciso fazer reformas políticas, é preciso refazer as campanhas eleitorais. Na essência, por que o sr. não quis assumir o governo do DF?
Faria um governo enfraquecido. Não quis ser um governador fraco, sem força. Não ter o apoio do meu partido (DEM) foi crucial. E tem o processo do STJ (Operação Caixa de Pandora), tem os problemas na Câmara Distrital (pedido de impeachment). Na essência, quando o DEM pediu para os seus filiados deixarem o governo, eu já assumi enfraquecido.
Além disso, o governador Arruda, que está na prisão, pode voltar.
Sim, Arruda se licenciou. Dependendo dos desdobramentos jurídicos, ele pode voltar, o que me deixava ainda mais fraco, se assumisse o governo. Não é possível governar sem apoio político e sangrando em praça pública.
Por que parte das lideranças do DEM assumiram a posição de não respaldar o sucessor do Arruda?
Não sei.
E o futuro do DF?
Assume o presidente da Câmara, o deputado Wilson Lima (PR), que é um homem bom, é um homem simples. E vamos aguardar.
Mas a Câmara também está contaminada.
Quero lembrar que as imagens exibidas pela mídia referem-se à campanha eleitoral. O governo assumiu em 2007, e não há vídeos sobre nada desde que o governo começou.
Mas o governo que assumiu é o que foi eleito na campanha em que foram gravados os vídeos.
O governo não está nos vídeos. Repito, temos uma questão eleitoral a resolver na legislação.
O sr. acha que afastou a intervenção federal no DF?
Sim. Ninguém, da classe política, deseja essa intervenção.
Com a renúncia, o sr. também preserva a sua condição de empresário, certo?
Não penso nisso agora.
O sr. admitiu que queria assumir, fazer um governo de coalizão e, depois, se afastar da vida pública. Como o sr. não assumiu o DF, isso quer dizer que pode voltar a pleitear o governo do DF?
Não tenha dúvida. Mas agora vou refletir, dar um tempo. Hoje (ontem) já recebi três convites de filiação a partidos novos. Tenho uns quatro anos para pensar no futuro.