Título: Em defesa da Argentina, Lula faz ataque à ONU em cúpula regional
Autor: Monteiro, Tânia ; Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2010, Internacional, p. A12

Presidente discursa no México e insinua que Conselho de Segurança só satisfaz aos interesses de países ricos

Paparicado por presidentes latino-americanos, chamado de "líder indiscutível" da região, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, condenou ontem a Organizações das Nações Unidas (ONU) e o seu Conselho de Segurança por não se posicionarem em favor da soberania das Ilhas Malvinas pela Argentina. A declaração foi feita durante o discurso de Lula na Reunião de Cúpula de Países da América Latina e do Caribe (Calc), que se encerrou ontem, no balneário mexicano de Cancún. "A nossa atitude é de solidariedade à Argentina", disse Lula, que indagou: "Qual é a explicação geográfica, política e econômica de a Inglaterra estar na Malvinas?"

E emendou: "Qual é a explicação de as Nações Unidas nunca terem tomado essa decisão? Não é possível que a Argentina não seja dona (das Malvinas), mas que seja a Inglaterra, a 14 mil quilômetros de distância."

Lula insinuou que a ONU age dessa forma porque a Grã-Bretanha é membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e voltou a defender uma reformulação do organismo, ampliando sua representatividade.

A reivindicação argentina sobre as Malvinas se intensificou nas últimas semanas, com a aproximação de plataformas de empresas britânicas destinadas a explorar as reservas de petróleo da costa das Malvinas.

"Será por que a Inglaterra é membro permanente, que a eles pode tudo e aos outros, nada? É preciso que a gente comece a instigar para que o secretário-geral das Nações Unidas reabra este debate." No seu discurso de improviso, Lula lembrou que aproveitava o encontro para fazer um apelo aos demais governantes, que, muitas vezes, evitam discutir assuntos de interesse da região por divergências entre eles.

Para Lula, esse "é o momento político" de se discutir a reformulação do Conselho de Segurança das Nações Unidas. "É inexorável que a gente discuta este papel (do Conselho de Segurança). Não é possível que ele continue representado pelos interesses da 2ª Guerra. Por que isso não muda?", questionou. E apelou: "Se nós não enfrentarmos este debate, a ONU vai continuar a funcionar sem representatividade e o conflito no Oriente Médio vai ficar por conta do interesse dos norte-americanos quando, na verdade, a ONU é que deveria estar negociando a paz no Oriente Médio."

REPRESENTATIVIDADE

Ao questionar por que a ONU se afasta desta discussão, reiterou que é porque ela perdeu a sua representatividade. "Muitos países preferem a ONU frágil para que eles possam fazer do seu comportamento, a personalidade de governança mundial", disse Lula, que chegou a dar um murro na mesa enquanto falava, exaltado.

Lula acusou ainda a reunião do clima de Copenhague de ter sido "a mais desorganizada" que já participou e atacou a "pobreza de espírito" dos "governantes de países importantes". "Havia um determinado momento em que o consenso era que o grande culpado (dos problemas do aquecimento global e poluição) era a China."

O presidente do México, Felipe Calderón, anfitrião do encontro, afirmou que Lula é o "líder indiscutível" da América Latina, sugerindo que o presidente brasileiro deveria dirigir um novo fórum regional, derivado do encontro de Cancún, que reunirá todos os países da região, com exceção de EUA e Canadá.

A nova entidade, ainda sem nome oficial, tem sido chamada de OEA do B - uma referência à Organização dos Estados Americanos.