Título: Comunicado final cria OEA do B sem EUA
Autor: Monteiro, Tânia ; Mello, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2010, Internacional, p. A13
"Comunidade da América Latina e Caribe" nasce sob pressão mexicana
Os 32 chefes de Estado e governo reunidos em Cancún anunciaram ontem a criação de um novo bloco regional americano sem a participação dos EUA e do Canadá, batizado provisoriamente de Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Além do nome, pouco mais foi definido sobre como funcionará a chamada "OEA do B". Na próxima reunião, em julho de 2011, em Caracas, será definido o estatuto, a sede e a organização da Celac. A Cúpula da Unidade dos países latino-americanos foi marcada pelas divergências ? o bate-boca entre o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o colombiano, Álvaro Uribe, ofuscou alguns dos temas. O presidente mexicano, Felipe Calderón, afirmou que a cúpula foi um "sucesso" e tentou minimizar as divergências. "Houve divergências na reunião, mas no fim prevaleceu a identidade comum da região", disse Calderón.
A nova comunidade será "um espaço regional próprio que reúne todos os Estados latino-americanos" para "consolidar a identidade latino-americana e caribenha", segundo a declaração final da cúpula, que tem 88 parágrafos.
"Podemos dizer que o sonho de Simon Bolívar foi realizado", disse o presidente venezuelano, Hugo Chávez, em entrevista coletiva que durou uma hora e meia. Para Chávez, o bloco sem os EUA prova que o mundo mudou, "que não será dominado pelo império norte-americano". Para o presidente boliviano, Evo Morales, a organização lançada vai permitir à América Latina que "se liberte dos Estados Unidos". A OEA é uma entidade que escuta mais os impérios do que os povos", disse Evo. "Será possível governar melhor a região sem o FMI e os EUA."
Raúl Castro, presidente de Cuba, afirmou que o novo bloco é de "transcendência histórica". A entidade será composta por 33 países ? Honduras foi convidada. O México preferia o nome União dos Estados Latino-Americanos e do Caribe, enquanto a Venezuela defendia Organização dos Estados Latino-Americanos, para que ficasse óbvia a contraposição á OEA. Mas a sugestão do Brasil, mais neutra, prevaleceu.
Os países aprovaram também uma declaração de apoio à soberania da Argentina sobre as Ilhas Malvinas, Sandwich e Geórgia do Sul. "Os chefes de Estado e de governo aqui presentes reafirmam seu respaldo aos legítimos direitos da República Argentina na disputa de soberania com a Grã-Bretanha sobre a "questão das Ilhas Mavinas". Os líderes pedem para que Grã-Bretanha e Argentina "retomem negociações para alcançar uma solução justa, pacífica e definitiva". Também há comunicado especial sobre a exploração hidrocarbonetos na plataforma continental e os países se referem à resolução da ONU que "insta as partes a se abster de decisões unilaterais que mudem a situação vigente."
Na declaração de Cancún, os países também condenaram a presença de forças na região como ameaça à soberania e integridade das nações, numa referência óbvia às bases americanas na Colômbia. A declaração também incluiu um repúdio ao embargo dos EUA a Cuba.