Título: Cosan e Shell se unem para tornar o etanol um combustível global
Autor: Pacheco, Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2010, Economia, p. B11

Acordo, que cria empresa com receita de US$ 21 bilhões, separa as áreas de produção e distribuição de etanol

O etanol brasileiro se prepara para uma mudança de patamar no cenário da matriz energética mundial. Ontem, Vasco Dias, presidente da Shell do Brasil, Rubens Ometto, presidente do Conselho de Administração da Cosan, e Marcos Lutz, presidente-executivo da companhia, anunciaram a criação de uma joint venture entre as duas empresas, dividida em duas áreas. Juntas, elas terão um faturamento inicial de US$ 21 bilhões, segundo Ometto, e um valor de aproximadamente US$ 12 bilhões: "O etanol brasileiro vai ganhar corpo", disse.

Na nova composição, cerca de 70% do patrimônio líquido da Cosan será colocado na joint venture. A gestão dos negócios será compartilhada entre as duas empresas. Numa das joints estarão as operações de açúcar, etanol e cogeração de energia. Na outra, a distribuição de combustíveis (postos) dos dois grupos. No caso da Cosan, ficam de fora a área de logística, as terras e as negociações de terrenos. A parte de lubrificantes da Shell também não foi incluída.

As usinas e plantas de cogeração passam a compor a nova empresa resultante da joint venture. A Cosan entra no negócio com 23 usinas, com produção de 2 bilhões de litros de etanol, 7 plantas de cogeração (mais 2 em construção e outras seis a serem construídas nos próximos anos). Também fazem parte do acordo 1.730 postos de combustíveis. Além de entrar com ativos de US$ 4,9 bilhões, a Cosan passa para a joint venture uma dívida líquida de cerca de US$ 2,5 bilhões.

A Shell entrará com 2.740 postos, com 50% da Iogen (líder na pesquisa de etanol de celulose) e com 14,7% da Codexis, que desenvolve tecnologias limpas (aplicadas na indústria farmacêutica, de energia e de químicos). Também fará um aporte financeiro de US$ 1,625 bilhão ao longo de dois anos. No total, a contribuição da companhia chegará também a US$ 4,9 bilhões.

Para a Cosan, é a chance de entrar de cabeça na pesquisa do etanol de segunda geração. E, principalmente, aproveitar o canal de distribuição da gigante de petróleo no mundo, por meio da exportação de etanol.

O negócio foi estruturado pelo banco BTG, de André Esteves. No ano passado, o banqueiro comprou duas redes de postos de combustível no País (Aster e Via Brasil) e chegou a ser apontado como eventual comprador da rede Shell no Brasil.

O negócio passou pelas mãos de Mark Williams, diretor mundial de downstream (refino, transporte e comercialização) da Royal Dutch Shell. Ele veio ao Brasil na semana passada para costurar os últimos detalhes do acordo. De Londres, por teleconferência, ele explicou a escolha da parceira: "O etanol brasileiro é o que produz menos carbono e é o mais eficiente. E a Cosan é a líder absoluta na produção de etanol."

Dias, da Shell brasileira, é outro defensor do etanol. Mas num passado não tão remoto, dizia sem titubear que o futuro dos combustíveis passaria ao largo do etanol. Ontem, o discurso era outro: "O Brasil é um país-chave e a fusão antecipa os benefícios do crescimento orgânico. Juntas, nos tornaremos ainda mais eficientes."

A resolução 43 da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em vigor desde dezembro, teve influência no negócio. As comercializadoras de etanol não poderão mais ser produtoras, diz Amaryllis Romano, da consultoria Tendências. Como no novo perfil de negócio as duas áreas ficaram em joint ventures diferentes, a Cosan se livrou de um problema futuro.