Título: Tá acumulada! O meu é registrado, viu?
Autor: Bizzotto, Ana
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2010, Metrópole, p. C1

Lotéricas tentam atrair clientes com a garantia de que jogo tem registro

APOSTADOR - Lotérica Jalucrei, no centro de São Paulo, vendia bolões até a tarde de ontem; o técnico em eletrônica Adir Fernandes aproveitou

Na manhã de ontem, a venda de bolões ocorria normalmente nas casas lotéricas de São Paulo. Na lotérica Marco Zero, no centro, mesmo durante a tarde as funcionárias ofereciam o produto a cada cliente que chegava ao balcão para pagar uma conta ou fazer uma aposta. "Não quer levar o bolão da Mega? Tá acumulada! O meu é registrado, viu? Temos como provar", dizia uma funcionária.

Já na lotérica Jalucrei, uma das mais tradicionais do centro da capital paulista, as três opções de bolão figuraram na vitrine apenas até o início da tarde. Segundo a proprietária, Mônica Speranzoni, o bolão não é o carro-chefe da casa, que está há 42 anos no mercado. "Representa apenas 0,2% das apostas. Oferecemos para quem não dispõe de capital para fazer um jogo maior", explicou Mônica. "Vamos respeitar a decisão da Caixa. Não sabemos se será definitiva. Para a nossa lotérica os bolões não fazem muita diferença, mas espero que eles revejam a decisão, em favor da categoria em geral", disse a proprietária.

O técnico em eletrônica Adir Fernandes, de 65 anos, comprou uma combinação de R$ 10 poucas horas antes de os bolões sumirem da vitrine da Jalucrei. "Com mais gente jogando, tenho mais chance. Nunca ganhei, mas o negócio é continuar tentando", disse.

Ao saberem da proibição da prática, alguns clientes reclamaram, enquanto outros apoiaram a decisão. "Para quem é de baixa renda, como eu, o bolão dá mais chances", diz o auxiliar de serviços gerais Luiz Amorim, de 59 anos. Ele já ganhou a quadra da Quina em uma das vezes que participou de aposta coletiva. "Até prefiro dividir. Se ganhasse na Mega-Sena, não saberia como administrar toda a bolada sozinho", justificou.

O advogado Berardino Santos, de 41 anos, aposta individualmente toda semana e é favorável à proibição. "Acho errado (o bolão), porque você não fica com o bilhete. No Brasil todo mundo tenta levar vantagem, então não dá para confiar em nenhuma lotérica. Só acredito no que tenho na mão."

"Eles insistem tanto que eu acabo comprando. Mas compro contrariado", disse o motorista Idorisvaldo Dias, de 47 anos, logo após apostar R$ 5 num bolão. "Tem de ser proibido mesmo, as lotéricas fazem o bolão para ganhar em cima."

Para o advogado Daniel Fugulin, de 32 anos, as casas lotéricas "honestas" estão sendo punidas por quem agiu de má-fé, como em Novo Hamburgo. "Qualquer medida para o consumidor não sair perdendo é válida. Mas a maior responsável por essa situação é a Caixa, que não fiscaliza as lotéricas." A.B.