Título: Brasil é aliado estratégico do Irã
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2010, Internacional, p. A15

Homem de confiança do presidente Ahmadinejad diz ao "Estado" que Teerã pretende ampliar parceria com o País

correspondente em Genebra

O governo do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad quer o Brasil como seu "principal aliado" nas Américas. A declaração é de Esfandiar Rahim Mashaie, chefe do gabinete presidencial, principal assessor de Ahmadinejad e ex-vice-presidente do Irã. Além de confirmar o interesse na relação bilateral, ele vê "semelhanças" entre os dois governos.

Ontem, Mashaie reuniu um pequeno grupo de jornalistas em Genebra para dar a versão iraniana sobre seu programa nuclear, a ameaça americana e os protestos eleitorais no país. O Estado foi o único jornal latino-americano presente.

"O Irã e o Brasil ampliarão suas relações. O Brasil é um aliado estratégico e temos uma coisa em comum: ambos lutamos pela independência", afirmou. "O ponto central da política externa do Brasil é não deixar que ela seja ditada pelos outros."

Por pressão da ala mais conservadora do governo, Mashaie abandonou a vice-presidência em julho. Mesmo assim, conservou sua posição de conselheiro do presidente. A relação com Ahmadinejad é também familiar - sua filha é casada com um dos filhos do líder iraniano.

Segundo ele, a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Teerã, em três meses, está sendo "cuidadosamente trabalhada". "Estamos montando um programa que possibilitará a aproximação entre os dois países." De acordo com ele, os detalhes da visita serão fechados esta semana.

Ahmadinejad esteve no Brasil em 2009. A visita causou protestos de todos os lados. Há uma semana, a vencedora do Nobel da Paz, Shirin Ebadi, alertou, em entrevista ao Estado, para a aproximação entre Lula e Ahmadinejad e pediu que Brasília repensasse a visita a Teerã.

Para Mashaie, o Brasil será um dos instrumentos usados pelo Irã para normalizar suas relações pelo mundo. "O Brasil tornou-se um país de importância central e sabemos que temos muitas áreas em que podemos cooperar", disse - agricultura, ciência e comércio estão entre os setores de cooperação.

Mashaie acredita que a aproximação seja importante também para o País. "O Brasil sabe que o Oriente Médio é crucial no cenário internacional. E, nessa região, o Irã é o país mais importante."

O iraniano disse ainda que não está preocupado com a eventual mobilização de tropas perto da fronteira de seu país, como divulgou o jornal New York Times na semana passada. "Ninguém tem coragem de nos atacar. O que fazem é apenas mostrar os dentes, como Drácula."

Na entrevista, Mashaie rejeitou as acusações de que o Irã busca uma bomba atômica. "Isso é uma piada. Queremos apenas manter pesquisas no campo nuclear. O Ocidente, quando diz isso, não está sendo honesto."

Por fim, ele atacou os críticos à repressão contra os protestos pós-eleitorais. "O Irã tem regras claras e vivemos em uma democracia. O que ocorreu foram eleições livres e justas. Pela lei eleitoral, o vencedor foi declarado", disse. Mashaie, porém, não quis comentar as acusações de ativistas de direitos humanos sobre a perseguição a opositores.