Título: Esquerda vai à feira e sai de mãos vazias
Autor: Tosta, Wilson ; Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2010, Nacional, p. A4

Ala queria demissão de "capitalistas"

A corrente Esquerda Marxista, minoritária, queria que o 4º Congresso do PT demitisse o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e todos os comandantes militares, "que tutelam o governo" Lula. E que decretasse o afastamento dos "ministros capitalistas", além de decidir que, a partir de agora, o governo se apoiaria na CUT e no MST.

Fracassou. O PT preferiu continuar aliado ao ministro da Defesa, aos militares e aos partidos que mantêm na estrutura do governo os "ministros capitalistas", como Henrique Meirelles, Geddel Vieira Lima e Márcio Fortes, entre tantos da ampla coligação que sustenta Lula.

Restou, então, à corrente mais à esquerda das que atuam dentro do PT comemorar o fato de ter ao menos conseguido uma vaga para seu dirigente Serge Goulart no novo Diretório Nacional.

Teve ainda de encarar uma realidade capitalista: montar sua banquinha para vender livros, revistas, jornais e camisetas com os ideários marxistas da corrente ao lado de outras de rapadura, azeite de babaçu e cachaça, de bolas de futebol de times populares como Flamengo e Corinthians, ou com a estrela do PT, xícaras com fotos de Lula, produtos da agricultura familiar, artesanato e revistas "burguesas", como Carta Capital, ou alternativas, como Caros Amigos.

A exemplo de todas as grandes aglomerações que envolvem militantes de esquerda, o congresso do PT é também uma feira, seja de produtos, seja ideológica. As correntes esquerdistas fazem barulho e tentam vender suas ideias, sonhos e utopias, mas acabam suplantadas pelos conchavos feitos mais à direita, como gostam de definir os adversários ideológicos.

Na feira havia também vendedores de filmes piratas, mas de temática engajada. A diferença é que ali cada DVD custava R$ 10. Nas ruas de Brasília, com o mesmo dinheiro, é possível comprar três piratas.