Título: China convoca embaixador dos EUA e protesta
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2010, Internacional, p. A13

Pequim diz que americanos devem adotar medidas para neutralizar impacto negativo da visita do dalai-lama

O governo chinês convocou ontem o embaixador dos Estados Unidos em Pequim, Jon Huntsman, para expressar "forte insatisfação" contra o encontro entre o presidente Barack Obama e o dalai-lama, classificado pelas autoridades locais como uma "clara interferência" em assuntos internos da China.

Obama reuniu-se com o líder espiritual tibetano na quinta-feira, apesar de reiterados pedidos de Pequim para que o encontro não ocorresse. Para as autoridades chinesas, o dalai-lama é um separatista que busca a independência do Tibete, cuja área representa 13% do território do país.

"A China pede que os EUA considerem seriamente a posição chinesa, adotem imediatamente medidas para neutralizar o impacto negativo [DO ENCONTRO]e interrompam o apoio e a cooperação com forças separatistas anti-China", afirmou em nota o porta-voz da chancelaria chinesa, Ma Zhaoxu. Ele ressaltou que os EUA devem realizar ações concretas para manter o "constante e saudável" fortalecimento das relações entre os dois países.

O teor da conversa entre o Huntsman e o vice-chanceler chinês, Cui Tiankai, não foi revelado por nenhum dos lados, mas a Embaixada dos EUA disse que a mensagem do lado americano foi a seguinte: "Agora é o momento de avançarmos e cooperarmos de modo que beneficie os dois países, a região e o mundo." O entendimento entre a China e os EUA é considerado vital para a solução de problemas globais, como mudança climática, a crise econômica e os programas nucleares do Irã e da Coreia da Norte.

O relacionamento está estremecido desde que Washington anunciou no mês passado a venda de US$ 6,4 bilhões em armas para Taiwan, a ilha para onde fugiram os nacionalistas derrotados pelos comunistas na guerra civil e que a China considera como seu território.

Exilado na Índia desde 1959, depois de um fracassado levante de tibetanos contra Pequim, o dalai-lama afirma ser contra a independência do Tibete, mas a favor de um maior grau de autonomia para a região. O Prêmio Nobel da Paz de 1989 sustenta que a identidade e a cultura tibetanas estão ameaçadas pela crescente migração para a região de chineses da etnia han, majoritária na China.

"As palavras e atos do dalai-lama mostram que ele não é apenas uma figura religiosa, mas um exilado político que sempre esteve engajado em atividades separatistas sob o manto da religião", disse a nota da chancelaria.

Segundo Ma Zhaoxu, ao receber o líder tibetano, Obama desrespeitou três comunicados conjuntos assinados por EUA e China, cujos textos afirmam que o Tibete é parte inalienável do território chinês. Essa continua a ser a posição oficial de Washington. Após o encontro com o dalai-lama, a Casa Branca divulgou nota na qual afirmou que Obama manifestou apoio à preservação da identidade religiosa, cultural e linguística do Tibete.