Título: Setor privado não teme Eletrobrás fortalecida
Autor: Goy, Leonardo ; Andrade, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2010, Economia, p. B3

Para representantes de empresas de energia, recuperação e ampliação da estatal é bem-vinda

O fortalecimento da Eletrobrás não é uma preocupação para o setor privado. A ideia de reestruturar as finanças da estatal e dar condições para que possa ampliar seus investimentos conta até mesmo com boa receptividade de grupos como a Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage). "Acho legítimo o governo pretender que a Eletrobrás tenha, igual à Petrobrás, uma força de vida e de investimentos", disse Flávio Neiva, presidente da entidade.

A faxina financeira que o governo vem promovendo na estatal desde o ano passado deve abrir espaço para que a empresa fortaleça sua presença tanto no mercado local quanto externo. Para Neiva, a perspectiva de integração energética na América do Sul é um dos fatores que contribuem para a avaliação positiva sobre a recuperação da Eletrobrás.

César de Barros Pinto, diretor executivo da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia (Abrate), concorda que o processo de integração no continente é "inevitável", considerando os ganhos que podem ser obtidos e o próprio histórico de expansão do setor. "Se a Eletrobrás puder cumprir um papel importante nesse processo na América Latina será excelente", disse o executivo.

Para o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, o fortalecimento da Eletrobrás é bem-vindo, mas pondera que os investimentos da companhia devem gerar valor para a sociedade. Sales comentou ainda que em projetos de grandes usinas hidrelétricas, "que sofrem tantos obstáculos de natureza formal", como dificuldades no licenciamento ambiental e disputas na Justiça, "a participação minoritária de uma estatal, no atual estado do setor, pode ajudar no tratamento das questões".

O presidente da Abrage reconhece que algumas empresas temem que o fortalecimento da Eletrobrás represente um aumento de poder da estatal no mercado doméstico.

"Temos críticos que gostariam de estar sozinhos no mercado, mas olha a vitalidade dessa integração no leilão das usinas do Rio Madeira e agora, talvez, em Belo Monte", ponderou Neiva. "São empresas federais com outras extremamente privadas fumando o mesmo cachimbo."

Uma das ressalvas feitas por uma fonte do setor, que pediu anonimato, foi em relação à possibilidade de a Eletrobrás entrar em mercados como o de transmissão de energia dos Estados Unidos, como já foi indicado pelo presidente da estatal, José Antônio Muniz. "Isso é uma barbaridade, uma megalomania", disse.

Para essa fonte, energia elétrica não é armazenável e não conta com o mesmo tipo de mobilidade de transporte de uma commodity como o petróleo. Por isso, só faria sentido uma internacionalização da Eletrobrás se fosse focada em investimentos em países vizinhos ao Brasil, o que permitiria a interligação e uso compartilhado da energia.