Título: Lula deveria ser a voz em defesa de cubanos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2010, Internacional, p. A12

Para dissidente, líder brasileiro não pode defender um padrão de direitos para o Brasil e outro, distinto, para Cuba

Entrevista Dagoberto Valdés: Religioso e dissidente cubano

O grupo de dissidentes cubanos liderado pelo religioso Dagoberto Valdés aproveitou a passagem, ontem, de Luiz Inácio Lula da Silva por Havana para cobrar a defesa "dos direitos humanos dos cubanos". Valdés é um dos poucos opositores do regime de Havana ainda soltos em Cuba. Mas tem a casa vigiada de forma constante, sua revista clandestina foi fechada e, no fim de 2009, o grupo de dissidentes liderado por ele teve a sede invadida por agentes do governo. Eis os principais trechos da entrevista, concedida por telefone ao Estado.

A visita de Lula pode ter algum impacto real sobre a situação dos cubanos?

Claro que sim. O que ele não pode fazer é defender que haja um padrão de direitos humanos para o Brasil e outro distinto para Cuba. Direitos humanos são iguais para todos e todos devem ter o direito de desfrutar desse direito. Lula precisa ser a voz em defesa da proteção da vida dos cubanos.

Qual o recado que os dissidentes cubanos querem dar ao presidente brasileiro?

Em Cuba, a população apenas quer de Lula o mesmo e tudo o que ele fez e defende para os cidadãos brasileiros. Lula promoveu políticas para garantir a dignidade de seu povo. Agora, o que os cubanos querem é o mesmo para o país.

Como o sr. vê a atuação do governo de Raúl Castro?

A situação se deteriorou muito. A repressão também. Temo pelo pior. A verdade foi enterrada. O que se vê pela TV não é a vida real do cubano e estamos naufragando. A crise econômica atingiu em cheio a ilha e o resultado político tem sido mais repressão.

Qual é a situação de Cuba hoje?

A Cuba real está escondida, cheia de problemas e não é nada agradável. Os jornalistas que vieram acompanhando Lula apenas estão conhecendo a Cuba virtual.