Título: Havana aumenta repressão a dissidentes
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2010, Internacional, p. A12

Mais de 25 são presos após morte de Zapata; mãe de opositor culpa Raúl

A morte do preso político cubano Orlando Zapata, após mais de dois meses de greve de fome, desatou ontem uma série de protestos fora de Cuba e uma onda repressiva dentro da ilha. A mãe de Zapata, Reina Luisa Tamayo, acusou o governo de Raúl Castro de "assassinato premeditado" e pediu ao mundo que exija a libertação dos outros presos políticos. Segundo a Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), depois da morte do dissidente, pelo menos 25 pessoas foram detidas na ilha. Algumas fontes da oposição cubana falam em até 50 prisões.

Zapata morreu na terça-feira, no mesmo dia em que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a Havana para reunir-se, ontem, com Raúl e Fidel Castro. A denúncia de Reina foi feita em uma entrevista ao blog Geração Y, de Yoani Sánchez, blogueira que ficou conhecida internacionalmente por descrever o duro cotidiano da população da ilha sob o regime dos irmãos Castro.

Segundo Reina, Zapata também foi torturado na prisão. O dissidente começou a fazer greve de fome em dezembro para protestar contras as condições do sistema carcerário cubano. No domingo, 50 presos políticos pediram, em uma carta, que Lula intercedesse por sua libertação durante a visita a Cuba.

"Acompanhei meu filho antes de morrer e o vi morto. Ele perdeu a vida em um assassinato premeditado. Foi torturado durante todo o tempo em que esteve preso, o que foi objeto de sofrimento para esta família", disse Reina em uma gravação, colocada no blog de Yoani. "Com minha dor profunda, peço ao mundo que exija a libertação dos demais presos, dos nossos irmãos que estão detidos injustamente, para que não volte a ocorrer o que aconteceu com o meu filhinho."

De acordo com a oposição, Zapata foi o primeiro opositor a morrer nos centros de detenção da ilha em quatro décadas. Grupos do exílio cubano em Miami convocaram uma grande manifestação para domingo para protestar contra o "assassinato" do opositor.

O Departamento de Estado dos EUA lamentou o desfecho do protesto do dissidente e disse que este mês, em reunião com autoridades cubanas para discutir migração, funcionários americanos haviam manifestado preocupação com o estado de saúde dele. A União Europeia pediu a Havana que mostre mais respeito pelos direitos humanos. E a Anistia Internacional (AI) exigiu uma investigação para definir se os maus-tratos colaboraram para a morte de Zapata.

Operário de 42 anos, Zapata era considerado um "prisioneiro de consciência" pela AI. Ele foi condenado a 3 anos de prisão em 2003, em um processo paralelo ao que levou outros 75 dissidentes (53 dos quais ainda estão detidos em Cuba) a receber penas de até 28 anos. Mas, depois, sua condenação foi ampliada para 25 anos e 6 meses.