Título: OMS volta a defender vacinação contra gripe
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2010, Vida&, p. A18

Organização apela para que Brasil imunize grande parte da população[br]e mantém alerta de pandemia para não afetar ações no Hemisfério Sul

Apesar de confirmar que o vírus H1N1 não se mostrou tão perigoso como se temia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) defende a campanha de vacinação que será realizada no Brasil a partir de 8 de março e apela para que grande parte da população seja imunizada.

Anteontem, a OMS reuniu seus principais especialistas sobre gripe suína, em Genebra, e optou por manter o alerta de pandemia - quando uma doença ultrapassa fronteiras e se espalha para diversos países. Para chegar à decisão, a organização levou em conta dois fatores diretamente ligados ao Brasil e ao Hemisfério Sul.

O primeiro é a constatação de que a região entrará nos próximos meses em sua temporada de inverno e que só a partir desse momento será possível saber se haverá uma segunda onda mais forte de contaminação. Segundo o diretor de influenza da OMS, Keiji Fukuda, essa consideração foi a mais importante na decisão de manter o alerta de pandemia.

Fukuda ainda apontou para o aumento de casos na África e admitiu que a organização continua preocupada com as regiões mais pobres do Hemisfério Sul. A OMS teme o impacto de um novo surto nos países, dizendo que não há garantias de que eles terão condições de lidar com o problema se ele for, de fato, mais severo.

O outro argumento que prevaleceu foi o de que a declaração do fim da pandemia enfraqueceria as campanhas de vacinação que começarão nos próximos dias, como a do Brasil. Durante o encontro, a entidade admitiu que "houve incerteza se novas ondas adicionais de atividade do vírus poderiam ocorrer e que seria necessário evitar minar a preparação" dos países em desenvolvimento.

VÍRUS EM CIRCULAÇÃO

Questionado pelo Estado sobre a utilidade da vacinação, Fukuda confirmou que a medida ajudará a frear o vírus. "O H1N1 estará circulando entre nós durante um bom tempo. Portanto, a vacinação ainda tem a capacidade de dar uma resposta a isso e deve ser realizada", afirmou. Segundo ele, pessoas vulneráveis podem ser salvas graças à vacina. "Incentivamos as pessoas para que se vacinem", disse, pedindo para que os países mantenham seus programas de combate ao vírus.

De acordo com Fukuda, cerca de 300 milhões de pessoas já foram vacinadas em todo o mundo e o resultado foi "muito positivo". O diretor da OMS não comentou, porém, que na Europa milhões de doses de vacinas estão encalhadas e que os governo já começaram a devolvê-las aos fabricantes. Além disso, estima-se que 30% das vacinas não teriam o efeito de proteção.

A sobra de vacina não foi o único fato que abalou a credibilidade da OMS durante a escalada a gripe suína. Recentemente, parlamentares europeus sugeriram que o cenário mais grave previsto pela organização poderia estar relacionado a uma eventual influência indevida de companhias farmacêuticas na organização.

Anteontem, a ideia era tentar encontrar uma fórmula para resgatar a credibilidade da OMS. Uma das alternativas analisadas foi declarar a fase pós-pico, o que significaria que o vírus H1N1 já teria um comportamento próximo ao da gripe sazonal. Isso mostraria que alguns países já teriam experimentado o auge da gripe suína.

NOVO ENCONTRO

Segundo a OMS, uma nova reunião dos especialistas será realizada nas próximas semanas para determinar se a pandemia já superou sua fase mais aguda. Na reunião de anteontem, o assunto foi debatido por duas horas antes que os profissionais chegassem à conclusão de que, apesar da importante queda de casos nos Estados Unidos e na Europa, as incertezas ainda são grandes.

Houve ainda a constatação de que o vírus é menos severo do que os circulantes em pandemias registradas no século XX. Do início do alastramento do H1N1 até agora, cerca de 16,2 mil pessoas morreram em decorrência da doença.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Quais as etapas da vacinação?

Entre os dias 8 e 19 de março, serão imunizados profissionais da saúde e indígenas. De 22 de março a 2 de abril será a vez de doentes crônicos (exceto idosos) e crianças de 6 meses a 2 anos. Grávidas receberão a vacina de 22 de março a 21 de maio. Adultos de 20 a 29 anos serão vacinados de 5 a 23 de abril. Na última etapa, de 24 de abril a 7 de maio, idosos com doenças crônicas serão imunizados

Como será feita a distribuição das vacinas contra a gripe suína?

O Ministério da Saúde entregará aos Estados um número de doses proporcional a população dos grupos prioritários. Os locais de vacinação serão definidos conjuntamente por Estados e municípios

As clínicas particulares oferecerão a vacina contra a gripe suína?

Sim, elas foram autorizadas pelo governo a importar a vacina. O inistério recomenda que as clinicas utilizem os mesmos critérios de público-alvo definidos para a rede pública. Mas elas poderão disponibilizar a vacina para todos, pois se trata de uma orientação

Tomar a vacina contra a gripe suína elimina a necessidade de se vacinar contra a gripe sazonal?

O único grupo que terá de tomar as duas vacinas e o formado por idosos com doença crônica. Na rede pública, eles receberão as duas doses no mesmo dia. Idosos saudáveis só precisarão tomar a vacina contra a sazonal. Quem procurar clinicas particulares poderá encontrar as duas vacinas em uma única dose, que será vendida por alguns laboratórios

O Ministério da Saúde poderá alterar, no decorrer da campanha, os grupos prioritários?

Sim, se houver mudança na situação epidemiológica e disponibilidade da vacina, outros grupos poderão ser vacinados em uma quinta etapa da campanha