Título: Juros bancários sobem, à espera da alta da Selic
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2010, Eonomia, p. B3

Taxa subiu de 34,3% em dezembro de 2009 para 35,4% neste mês

Os bancos aumentaram o juro dos empréstimos em janeiro e a elevação continua em fevereiro. Dados do Banco Central mostram que, na média, a taxa cobrada dos clientes subiu 1,1 ponto porcentual, de 34,3% no fim de dezembro para 35,4% em 10 de fevereiro. Apesar da queda da inadimplência, o crédito está mais caro porque instituições aumentaram a margem cobrada nessas operações. O movimento dos bancos tenta antecipar o aperto do crédito previsto para os próximos meses, com a esperada elevação da taxa Selic. A alta já antecipou também o efeito das mudanças - anunciadas ontem à noite pelo governo - nas regras do compulsório, a parcela do dinheiro dos bancos que fica depositada no BC.

O encarecimento do crédito ocorre principalmente nos empréstimos às empresas. Nessas operações, a taxa média subiu 1,2 ponto porcentual em pouco mais de um mês - entre o fim de dezembro e 10 de fevereiro - e atingiu 26,7% na semana que antecedeu o carnaval, voltando ao nível de julho de 2009. Para as pessoas físicas, o juro avançou 0,7 ponto e já está em 43,4% ao ano, maior taxa desde outubro.

"Ainda não conseguimos identificar se essa alta é uma mudança de tendência ou um ponto fora da curva", disse o chefe adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel. Ele não descartou, porém, a avaliação de alguns economistas de que o juro maior pode ser uma antecipação dos bancos ao aperto no crédito previsto para os próximos meses. Para o mercado, o BC deve adotar medidas em breve para conter a inflação e segurar a velocidade do crédito pode ser uma delas.

Para o analista da LCA Consultores, Douglas Uemura, a perspectiva de que a política monetária será alterada em breve eleva custos dos bancos e isso é repassado aos clientes com alta dos spreads bancários e juros. Spread é a diferença entre o juro pago pelo banco para captar no mercado e a taxa cobrada nos empréstimos. "Nos últimos meses de 2009, o spread, principalmente do crédito para pessoa física, atingiu patamar bastante baixo. Agora, deve acontecer uma recomposição."

Para o BC, essa leitura é possível, mas é cedo para afirmar que o aumento da margem dos bancos é o principal responsável pela alta dos juros ao consumidor. Para Maciel, há uma mudança no crédito do início do ano, com mais clientes em busca de empréstimos, o que eleva a média do mercado. É comum, segundo ele, empresas usarem a conta garantia - espécie de cheque especial. Entre as famílias, muitos recorrem a empréstimos caros, como cheque especial e cartão de crédito.

O BC também informou ontem que as operações de crédito do sistema financeiro cresceram 0,7% em janeiro na comparação com dezembro de 2009. Com esse aumento, o total de financiamentos de empresas e pessoas físicas atingiu R$ 1,422 trilhão, equivalente a 44,6% do Produto Interno Bruto (PIB).