Título: Analistas divergem sobre efeito da medida do BC
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2010, Eonomia, p. B3

Alguns acreditam que os juros ao consumidor e a Selic vão subir e outros, que vão baixar

Analistas do mercado financeiro acreditam que a alteração nos depósitos compulsórios, que vai retirar R$ 71 bilhões do sistema financeiro, deve provocar o aumento dos juros ao consumidor. "Os juros já aumentaram e vão aumentar ainda mais com essa decisão do BC", disse o ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) Roberto Troster.

Segundo Luís Miguel Santacreu, da Austin Rating , a medida terá reflexo no bolso do consumidor, pois os compulsórios têm participação relevante na composição do spread bancário. Ele explica que, como haverá redução do dinheiro disponível nos bancos para crédito, a tendência é de alta dos juros.

Mas os especialistas divergem sobre o efeito da medida na taxa básica de juros (Selic). "Se a Selic começar a subir em março, muitos vão dizer: Tá vendo? A alta dos compulsórios já sinalizava isso. Outros vão dizer o mesmo se o ciclo de altas se iniciar em abril: Tá vendo? A mudança no compulsório permitiu ao BC postergar o começo do ciclo. O fato indiscutível é que a medida do BC acabou com qualquer hipótese de o juro não ser elevado este ano", diz um respeitado economista.

Santacreu está entre os que acreditam que o ciclo pode demorar mais para começar. O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, também. Para ele, "caiu para zero" o risco de o Copom aumentar os juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 16 e 17 de março. "A retirada de R$ 71 bilhões de circulação equivale a uma alta da Selic próxima a 1,4 ponto porcentual", comentou.

"Os juros futuros, especialmente de curto prazo, começarão a baixar amanhã (hoje). Deve-se esperar que a alta dos juros este ano não deve chegar a 3,50 ou 4 pontos porcentuais." Hoje, a Selic está em 8,75%.

A decisão do BC é algo que os analistas mais atentos já esperavam, segundo Luís Otávio de Souza Leal, do Banco ABC Brasil. Fontes da Agência Estado que participaram da reunião do BC com analistas de mercado em São Paulo, segunda-feira, disseram que as autoridades presentes chegaram a questionar os representantes dos grande bancos sobre como viam a evolução do crédito.

As respostas revelaram que, em fevereiro, o crédito deveria "bombar". Para Leal, pode ter sido a gota d"água para o BC reverter as medidas anticrise. ANA PAULA RIBEIRO, FRANCISCO CARLOS DE ASSIS, LEANDRO MODÉ, RENEÉ PEREIRA E RICARDO LEOPOLDO