Título: Mares Guia vira réu no caso do mensalão mineiro
Autor: Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2010, Nacional, p. A7

Além do ex-ministro, Marcos Valério e mais nove estão na denúncia acolhida por juíza de Minas

A juíza Neide da Silva Martins, titular da 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte, recebeu denúncia contra o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, o empresário Marcos Valério e outros nove acusados no inquérito do mensalão mineiro, suposto esquema de desvio de recursos públicos durante a campanha à reeleição do então governador Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998.

Mares Guia responderá por peculato (uso de cargo público em benefício próprio) e lavagem de dinheiro. O ex-governador e hoje senador, que tem foro privilegiado, já é réu no Supremo Tribunal Federal (STF).

Além de Walfrido ? que na época era vice-governador ? e Valério, passam à condição de réus o ex-vice-governador de Minas durante o primeiro mandado de Aécio Neves (PSDB), Clésio Andrade; o ex-tesoureiro da campanha de Azeredo e ex-secretário de Administração do governo tucano, Cláudio Mourão; os ex-sócios de Valério nas agências DNA e SMPB, Ramon Hollerbach Cardoso e Cristiano de Melo Paz; o ex-secretário de Comunicação do governo Azeredo, Eduardo Guedes; o ex-diretor da Copasa Fernando Moreira Soares; os ex-diretores da Comig Lauro Wilson de Lima Filho e Renato Caporali Cordeiro e o ex-presidente do Bemge José Afonso Bicalho.

A magistrada determinou a citação de todos os réus para que respondam à acusação por escrito no prazo de 10 dias.

REAÇÃO

O advogado Marcelo Leonardo, que representa Marcos Valério, atacou a decisão. "Houve preocupação de dar satisfação num processo do "mensalão do PSDB" para poder dizer que tem um do PSDB, tem um do PT e agora tem um do DEM. É só para ter utilidade política, porque utilidade jurídica não vai ter nenhuma", disse. "Todos os fatos se referem a 1998. Estamos em 2010, eles fatalmente serão atingidos pela prescrição e essa ação penal será apenas uma atividade do Judiciário inútil." Ele argumenta que a Justiça Estadual é incompetente pelo fato de outros dois processos originários do inquérito 2280 estarem tramitando na Justiça Federal.

Representante de Mourão, o advogado Antonio Velloso Neto se disse surpreso e também opinou que a competência deveria ser da Justiça Federal. Arnaldo Malheiros Filho, que representa Mares Guia, alegou que não teve acesso à decisão, mas negou ligação do cliente com o esquema. "O Walfrido dos Mares Guia é um Pilatos no Credo e isso será demonstrado durante o processo."

Hermes Guerrero, que representa Hollerbach e Cordeiro, afirmou que considera "boa" a situação dos clientes. Celso Sanchez Vilárdi, advogado de Clésio Andrade, disse que só se manifestará após ter acesso à decisão.

Castelar Guimarães, que representa Paz e Wilson Filho, foi procurado, mas não respondeu. O Estado não conseguiu contato com os outros réus.