Título: Visita a Fidel recebe críticas na Câmara
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2010, Internacional, p. A16

Para deputado opositor, Lula foi a Cuba "celebrar morte de dissidente"

A atitude do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ? que, em visita a Cuba, esquivou-se de condenar violações dos direitos humanos no país ? provocou polêmica ontem no plenário da Câmara. O DEM entrou em obstrução, impedindo a votação de sete projetos de decreto legislativo de acordos internacionais. O presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), decidiu suspender as votações depois do bate-boca entre o vice-líder do DEM, deputado José Carlos Aleluia (BA), que chamou Fidel Castro (ex-presidente de Cuba) e seu irmão Raul Castro de assassinos, e deputados do PT e do PC do B, que saíram em defesa de Lula.

Temer fez questão de ressaltar que a posição oficial da Câmara é de repúdio a "toda e qualquer atitude antidemocrática e agressiva em qualquer país do mundo". "Quem poderia imaginar um presidente operário, o nosso presidente metalúrgico, ir a Cuba para comemorar a morte de um dissidente do regime de Fidel? Isso é inaceitável. Tirar foto dando risada, ao lado de assassinos, ao lado de bandidos, em Cuba", disse Aleluia.

Sua fala foi rapidamente contestada pela deputada Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), que é presidente do grupo parlamentar Brasil/Cuba. A deputada disse ter "muitas divergências" com o presidente dos EUA, Barack Obama. "Os EUA fizeram o que fizeram com o povo, com seres humanos, na prisão de Abu Ghraib; mantêm até hoje Guantánamo funcionando; mantêm cinco presos políticos cubanos sem nem sequer serem julgados em território americano", afirmou Grazziotin.

Para o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), "não cabe ao presidente chegar em Cuba se imiscuindo na política interna do país". Ele argumentou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se encontrou diversas vezes com Fidel Castro e nunca se referiu às denúncias de violação de direitos humanos em Cuba. O petista lembrou ainda que o ex-governador da Bahia Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007, recebeu Fidel "com pompa e circunstância" no Estado e, na época, Aleluia era da base aliada ao governador. O deputado Nilson Mourão (PT-AC) também usou de ironia para se referir à posição de Aleluia: "Lamentavelmente, não vi o deputado Aleluia comovido quando os EUA mataram 70 iraquianos e foram a TV para simplesmente pedir desculpas."