Título: Mamógrafo é subutilizado no País
Autor: Leite, Fabiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2010, Vida&, p. A22

TCU aponta que apenas 5% dos estabelecimentos fizeram 25 exames por dia ou mais, índice considerado ideal

Auditoria do Tribunal de Contas da União apontou que, entre maio de 2008 e abril de 2009, a maioria dos mamógrafos operantes em serviços públicos brasileiros foi subutilizada, ou seja, teve baixa produtividade. Em apenas 5% desses locais (23 em 435) foram feitas 25 mamografias ou mais por dia, parâmetro considerado ideal pelos técnicos do tribunal. No País, a média de produção das máquinas foi de apenas 9,8 exames/dia.

No programa Mais Saúde, o governo brasileiro elegeu como meta ofertar, até 2011, mamografias a 60% das mulheres entre 50 e 69 anos, o que significaria 7 milhões de exames. No entanto, a pesquisa apontou que, mesmo descontando o conjunto de mulheres cobertas por planos de saúde, a produção atual da União, Estados e municípios deixa pelo menos 15% sem cobertura.

Problemas como falta de manutenção e de funcionários para operar os mamógrafos e fazer laudos foram apontados como principal obstáculo à realização de mamografias, segundo questionários respondidos por municípios a pedido do TCU. Quinze unidades ouvidas admitiram nunca ter colocado máquinas em funcionamento em razão de problemas como necessidade de obras de infraestrutura na unidade. "O que ficou patente é que o número de mamógrafos no País seria suficiente se estivessem sendo utilizados na sua totalidade", resumiu ontem o ministro Valmir Campelo, relator do trabalho.

A mamografia é um exame de imagem essencial para a detecção precoce e para posterior tratamento do câncer de mama, doença cuja mortalidade vem aumentando anualmente no Brasil, desde 2000, alcançando cerca de cem óbitos anuais a cada 100 mil habitante, destaca Campelo.

Em sessão anteontem, os ministros do órgão assessor do Congresso Nacional acordaram uma série de medidas para otimizar a distribuição e a utilização dos equipamentos. Entre elas está a necessidade de avaliações técnicas mais aprofundadas antes da liberação de recursos públicos para a compra de mais mamógrafos. Além disso, apontou a necessidade de gestores federais, estaduais e municipais melhorarem o quadro de funcionários que operam os aparelhos, a manutenção e o abastecimento de insumos para as máquinas.

"O único método para detecção precoce é a mamografia, não podemos tolerar essa situação", opinou ontem Mara Caleffi, que preside a Femama, federação que une entidades defensoras do direito das pacientes.

O trabalho do TCU começou em 2008 a pedido do então deputado federal José Aristodemo Pinotti (DEM), que morreu no ano passado. Além de avaliar dados sobre o cadastro dos equipamentos e a respeito da produção cobrada do Sistema Único de Saúde (SUS), os técnicos do tribunal consideraram informações do sistema privado.

Durante as avaliações dos dados, os auditores encontraram sinais de irregularidades, principalmente entre instituições privadas que prestam serviço ao SUS e apresentaram uma produção de exames muito acima da média nacional. Foi o caso de estabelecimentos em SP, BA, AL, PB, SC, ES, MG e RS.

Os auditores fizeram elogios aos sistemas de organização dos exames no Estado de São Paulo e na cidade de São Paulo, onde foram encontrados menos problemas.

A diarista Maria Senhorinha, de 57 anos, moradora de um conjunto habitacional na zona norte paulistana, é uma das beneficiadas. Disse ter conseguido realizar o exame em um mês em um hospital municipal paulistano. "E fui atendida sem atraso", conta.

Já Maria Helena de Souza, de 65 anos, conta que seu primeiro exame só foi feito no ano passado e, ainda assim, com cinco meses de demora.

COLABOROU CARLOS LORDELO

PARA ENTENDER

O que é: A mamografia é um exame de imagem utilizado para a detecção precoce do câncer de mama

Quem deve fazer: A critério médico, mulheres de todas as idades podem fazer o exame. Política de rastreamento do câncer de mama para a população em geral recomenda que as mulheres de 50 a 69 anos façam um exame a cada dois anos. Mulheres de grupos de risco, como aquelas com mães e avós que tiveram a doença, devem começar mais cedo

A lei: A legislação brasileira prevê que a mamografia é direito a partir dos 40 anos