Título: Usiminas vai criar empresa de mineração
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2010, Negocios, p. B25

Nova empresa, que pretende produzir 29 milhões de toneladas em 2014, está à procura de sócios

A siderúrgica Usiminas vai criar uma nova empresa para reunir seus negócios de mineração, numa estratégia semelhante à que vem sendo estruturada pela concorrente Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A nova empresa, que está sendo chamada de Usiminas Mineração, deverá produzir 29 milhões de toneladas de minério de ferro a partir de 2014.

A ideia é atrair um sócio estratégico, que poderá ter até 20% de participação na nova empresa. A Usiminas estima que, no total, serão necessários investimentos na ordem de, pelo menos, US$ 1 bilhão para processar tal volume de minério. Embora não tenha estabelecido um prazo para concluir a cisão dos negócios de mineração, a direção da Usiminas já começou a conversar com possíveis sócios e garante que a receptividade à proposta é grande.

A companhia pretende, num segundo momento, abrir o capital dessa empresa de mineração. Mas quer manter o controle do negócio, com pelo menos 51% do capital. Uma das maiores fabricantes de aços planos do País, a Usiminas começou a investir em mineração em 2008, quando comprou a mineradora J. Mendes, com quatro minas na região conhecida como Serra Azul, no município de Itatiaiuçu, em Minas Gerais.

Pagou pela mineradora uma primeira parcela de US$ 925 milhões e quitará a operação no dia 18 de março, numa segunda parcela calculada com base na avaliação das reservas. O valor pode chegar a US$ 1,9 bilhão caso as reservas sejam de 1,4 bilhões de toneladas, como informado pelos vendedores. Embora as sondagens nas quatro minas ainda não estejam totalmente concluídas, tudo leva a crer que o relatório final confirmará o tamanho da reserva.

Segundo o presidente da Usiminas, Marco Antônio Castello Branco, a siderúrgica investiu em mineração pensando no potencial operacional ? os ganhos que poderia ter usando minério próprio. Mas enxergou que existe também um grande potencial como negócio.

A companhia não descarta a possibilidade de ampliar seus investimentos em mineração, com novas aquisições. "A Usiminas é uma candidata natural a ser consolidadora", disse Castello Branco. "Mas não vamos fazer isso a qualquer preço."

No início de 2008, antes de a crise atingir a economia mundial e afetar a venda de minério de ferro, pequenas mineradoras de Serra Azul foram compradas com ágio por grupos como ArcelorMittal, MMX e Ferrous. Com o início da recuperação do mercado, pequenas mineradoras da região voltaram a ser sondadas por investidores. Segundo Castello Branco, o minério de Serra Azul interessa, mas é um minério formado por itabirito duro, com alta sílica, que exige investimentos elevados para o processamento. "O tempo do minério bom, fácil e barato em Minas acabou."

Além das minas, a nova empresa da Usiminas vai incorporar os negócios do setor de logística: 20% do capital da MRS Logística e um porto que será construído na Baía de Sepetiba, no Rio ? e que ainda está em fase de licenciamento ambiental.

CONSTRUÇÃO CIVIL

No mesmo dia em que anunciou a decisão de separar a mineração numa nova empresa, a Usiminas comunicou ao mercado a compra de 30,7% das ações em duas empresas que atuam no setor de construção civil, a Codeme e a Metform, por R$ 129,6 milhões. A maior parte do valor da aquisição, 75%, será paga em produtoS.

Segundo Castello Branco, partiu dos controladores das duas empresas ? que são clientes da Usiminas ? a proposta de associação. O interesse da Usiminas, explicou ele, é fomentar a participação do aço na construção civil. A Codeme monta estrutura de aço para galpões e edifícios. A Metform produz sistemas de cobertura metálica.

"Estamos convencidos de que a solução para o déficit habitacional do País passa pela industrialização da construção civil", disse. "Estamos desenvolvendo soluções mais adequadas para a construção civil de baixa renda."

No total, a Usiminas pretende investir R$ 3,2 bilhões em 2010 em projetos de expansão. Para a direção da companhia, os investimentos previstos para o ano são a prova de que a empresa, duramente afetada pela crise em 2009, conseguiu preservar sua liquidez financeira e a capacidade de investir no momento de recuperação do mercado.

O balanço de 2009, divulgado ontem, mostra que o ano foi mesmo duro para a siderúrgica. A produção de aço bruto caiu 30% e as vendas, 22%. A receita líquida baixou 30%, caindo de R$ 15,7 bilhões em 2008 para R$ 10,9 bilhões no ano passado.

O lucro líquido caiu 58%, de R$ 3,22 bilhões para R$ 1,34 bilhão E a geração de caixa (Ebtida) despencou: foi de apenas R$ 1,48 bilhão, 75% menor que o resultado de 2008. Mas a expectativa para 2010 é de recuperação da demanda.