Título: Obama deve pressionar País por reforço do TNP
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2010, Internacional, p. A20

Washington quer que Brasil aceite acordo que permitirá inspeções nucleares mais frequentes

Antes da Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), em maio, os EUA pretendem firmar um compromisso com a Rússia de redução do seu estoque de ogivas nucleares e, no âmbito doméstico, ratificar o acordo que proíbe totalmente os testes atômicos.

Essas iniciativas foram antecipadas ontem ao governo brasileiro pelo subsecretário de Assuntos Políticos do Departamento de Estado americano, William Burns. O gesto, entretanto, trouxe implícita a demanda de uma contrapartida sensível ao Brasil, que é o interesse dos EUA em que o País assine o protocolo adicional do TNP.

A pressão para que mais países assumam os compromissos do protocolo adicional, que permite inspeções mais intrusivas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) nas plantas nucleares, é um dos objetivos da Conferência de Revisão do TNP. Com o cuidado de não mencionar esse tópico nem a resistência do Brasil a assiná-lo, Burns conseguiu introduzir de forma velada o tema no Itamaraty ao tocar na efetiva redução de arsenais nucleares das grandes potências, um ponto caro ao governo brasileiro.

O ponto central da visita de Hillary Clinton, as posições divergentes do Brasil e dos EUA sobre a questão nuclear iraniana, foi abordado pelo próprio Amorim. Colaboradores do chanceler disseram que ele reafirmou a Burns o interesse do Brasil em que o Irã não desenvolva armas nucleares e numa saída negociada para a crise.

Nas conversas de ontem, Burns defendeu um maior equilíbrio entre os compromissos e resultados efetivos nos três pilares do TNP - desarmamento, não-proliferação e uso pacífico da energia nuclear. Informou ainda que seu país deverá publicar uma nova Revisão da Posição Nuclear (NPR), na qual se diminuirá sensivelmente a ênfase das armas atômicas na doutrina de segurança americana.

Burns destacou a empreitada da Casa Branca para selar, com Moscou, um novo acordo de redução de arsenais e seu empenho para aprovar o Tratado de Interdição Completa de Testes Nucleares (CTBT), de 1996. Em 2000, o então presidente Bill Clinton esforçou-se pela aprovação do texto no Congresso americano. Mas acabou perdendo, na votação final, com placar de 51 a 49 votos.

O presidente dos EUA, Barack Obama quer reforçar a posição de seu governo em favor do desarmamento nuclear. A iniciativa agradou muito ao Itamaraty, segundo um diplomata. Mas deixou implícita uma nova onda de pressão americana para que o Brasil assine o Protocolo Adicional.