Título: BC pode tomar medidas impopulares
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2010, Economia, p. B1

Em meio às discussões dos economistas sobre a necessidade de elevação do juro básico da economia, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, subiu o tom do discurso. Em pronunciamento, ontem, ele disse que as decisões são técnicas e, se necessário, o BC pode tomar medidas "antipáticas e impopulares". Avisou também que o órgão não é influenciado por fatos do "calendário cívico", como as eleições.

O discurso enfraqueceu a corrente dos analistas que acreditavam que a alta da taxa Selic seria adiada após as mudanças, anunciadas na quarta-feira, nas regras dos depósitos compulsórios. O mercado reagiu às palavras de Meirelles e a cotação dos juros no mercado futuro subiu.

"Atuar de forma consistente significa não evitar decisões tecnicamente justificadas que, no curto prazo, possam parecer antipáticas ou impopulares", disse o presidente do BC, em discurso durante a posse do novo diretor de Assuntos Econômicos, Carlos Hamilton Araújo. "Portanto, enganam-se aqueles que esperam mudanças na conduta do BC em função do calendário cívico." As afirmações foram acompanhadas da lembrança de que uma das principais funções da instituição é "assegurar a convergência da inflação à trajetória das metas".

Logo após o a fala do presidente do BC, as taxas do mercado futuro passaram a subir com força diante da avaliação de que Meirelles sinalizara alta da Selic para breve. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para 16 e 17 de março.

Nos últimos dias, havia crescido entre analistas a percepção de que o início do novo ciclo de alta da Selic poderia ser adiado após as mudanças no compulsório ? parcela dos depósitos bancários que fica retida no BC.

A partir de 22 de março, será revertida a maior parte das medidas de flexibilização do compulsório adotadas no fim de 2008 para combater os efeitos da crise. Com a decisão, cerca de R$ 71 bilhões serão retirados de circulação, o que pode ajudar a conter o ritmo de crescimento da economia.

Atualmente, a principal discussão entre os analistas trata de quando deve começar o ciclo de alta do juro básico. As apostas se dividem entre março e abril. Apesar da divergência quanto ao mês, há consenso de que o BC vai elevar a Selic. O principal foco está na trajetória do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). As estimativas sobem desde janeiro e já estão em 4,86%, acima do centro da meta, de 4,5%.

No discurso, Meirelles disse ainda que a sociedade não deve se pautar "pela interpretação de agentes ou jornalistas" sobre os próximos passos da política monetária. A percepção, segundo ele, deve ser construída apenas com documentos do Banco Central, como atas do Copom ou pronunciamentos da diretoria do órgão.