Título: Grécia diz que não quer ajuda externa
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2010, Economia, p. B8

Para primeiro-ministro, é ''questão de honra e orgulho'' reduzir déficit

No dia em que a missão conjunta da União Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) deixou o país, após uma semana de auditorias, o primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, confirmou que realizará novos cortes nas contas públicas para evitar a falência do país. Em mensagem ao Parlamento, o chefe de governo assegurou que não pedirá recursos a nenhum país ou instituição para reduzir o tamanho de seu déficit. Novos cortes orçamentários podem ir de ? 2,5 bilhões a ? 5 bilhões.

Os rumores sobre a exigência de mais redução nas despesas por parte da União Europeia já circulavam na quinta-feira, quando os auditores internacionais advertiram que o país - cuja gestão econômica está sob tutela de Bruxelas - não conseguiria atingir o objetivo de reduzir o déficit atual, de 12,7%, para 8,7% em 2010 com os cortes de ? 4,8 bilhões anunciados até aqui. A confirmação, entretanto, veio mais rápido do que o esperado, um sinal de que o governo tenta se antecipar às reações do mercado financeiro.

"A história confirmou nossos piores temores", disse, reconhecendo a pressão que recai sobre a Grécia. "Nós temos de fazer o que for necessário para enquadrar o perigo hoje. Amanhã será muito tarde, e as consequências muito mais agudas." Em um discurso em que descreveu o objetivo de reduzir o endividamento - hoje avaliado em 113% do PIB - e amortizar o déficit como "uma questão de honra e orgulho", Papandreou reiterou que não pedirá auxílio financeiro externo, mas espera solidariedade da União Europeia.

O premiê ainda convocou a população grega a apoiar um processo de reformas econômicas no país. "Políticas passadas tornam necessário realizar mudanças brutais", justificou, em crítica indireta a seus antecessores, que entre outras medidas mascararam parte do déficit do país em operações de derivativos no mercado financeiro realizadas com a consultoria do banco americano Goldman Sachs.

Em Atenas, o discurso de Papandreou foi interpretado como uma tentativa de demonstrar empenho em sanar o impasse financeiro e criar condições mais favoráveis para a emissão de ? 20 bilhões em títulos da dívida grega, medida que deve ser realizada entre abril e maio.

A crise grega também foi assunto em Washington, onde o diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, informou que Bruxelas e Atenas não aceitaram o auxílio - e a intervenção - do Fundo. "Eles vão restaurar a situação sozinhos", anunciou o ex-ministro da Economia da França, demonstrando apoio à iniciativa