Título: Gravação derruba tese de crime eleitoral, admite Arruda a aliados
Autor: Colon, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2010, Nacional, p. A4

Conversa de outubro de 2009 não se encaixa na versão de que acusações são ligadas à campanha de 2006

Preso na Superintendência da Polícia Federal desde o dia 11 de fevereiro, o governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), confidenciou às visitas que tem recebido em sua cela que cometeu um erro grave durante as investigações do chamado "mensalão do DEM": ter orientado Durval Barbosa, em diálogo gravado no dia 21 de outubro passado, a distribuir propina a políticos aliados. Arruda teria admitido que isso foi "um vacilo" porque sabia que Barbosa ? delator do esquema ? poderia gravar a conversa, ocorrida na residência oficial do governo.

O governador afastado e seus advogados consideram essa conversa ? gravada com o aval da Polícia Federal ? o elemento complicador no inquérito conduzido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O fato derruba a versão de que as acusações são relacionadas à campanha de 2006 e não passariam de crime eleitoral. O diálogo seria a prova da existência de um esquema de corrupção no governo.

Na conversa, Arruda pergunta a Barbosa: "Aquela despesa mensal com político sua está em quanto?" E completa: "Deixa eu te perguntar, nesse valor aqui de nove, novecentos... novecentos e noventa e quatro, você já pegou a sua parte?" Num determinado momento da conversa, ao falar sobre a entrega do dinheiro a deputados, Arruda pede: "Tem que unificar tudo!"

Numa reunião em setembro, antes de aceitar a delação premiada que o levaria a revelar o esquema, Barbosa, então secretário de Relações Institucionais do governo, discutiu com Arruda como resolver sua situação nas dezenas de processos a que responde na Justiça. Em troca, o governador tentava acertar com Barbosa uma saída eleitoral para justificar o vídeo em que recebe R$ 50 mil das mãos dele.

A solução foi o recibo de suposta compra de panetones para o Natal da população pobre a fim de justificar aquele dinheiro. O recibo foi considerado forjado pelo Ministério Público Federal, que denunciou o governador por falsidade ideológica. Dias depois, Barbosa decidiu colaborar com a Justiça e revelar o esquema do "mensalão do DEM".

SEM APOIO

De dentro da cela, Arruda não esconde o que considera "sacanagem" da cúpula do DEM. O governador tem dito que o comando da legenda prometeu que não tentaria inviabilizar a interinidade de Paulo Octávio, o que garantiria a estabilidade do governo do Distrito Federal, diminuindo as pressões para renunciar da cadeia. Sob ameaça de expulsão, contudo, Paulo Octávio desfiliou-se do DEM e renunciou ao mandato de vice-governador, depois de ser abandonado politicamente em Brasília.

Arruda é acusado de chefiar um esquema de corrupção que, em resumo, funcionaria assim: empresas contratadas pelo governo do DF pagavam propina e o dinheiro era repassado para deputados distritais da base aliada, secretários de Estado, assessores e a Paulo Octávio. A denúncia é investigada no inquérito da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.