Título: Bolívia repassou informações antiguerrilha
Autor: Moraes, Marcelo de ; Recondo, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2010, Nacional, p. A8

Primeira lição aos militares brasileiros foi a de infiltrar informantes entre os guerrilheiros

A experiência de combate aos guerrilheiros de Che Guevara foi repassada pelo Estado-Maior do Exército da Bolívia para o governo brasileiro no fim de 1967. Com detalhes das operações, o modelo bem-sucedido desse enfrentamento foi um dos primeiros documentos a chegar às mãos dos militares como forma de se preparar para situações semelhantes que poderiam acontecer no Brasil - como de fato ocorreu, por exemplo, no Araguaia.

O envio do "Resumen informativo nº 11/67 do Estado Mayor del Ejercito Departamento II /Seccion II/B-Bolívia" deixa evidente a cooperação entre os dois países na estratégia de reação aos grupos de esquerda que combatiam os dois governos.

Em dezembro, o documento já estava com a Aeronáutica, foi traduzido e resumido. Logo no início, anuncia como sua finalidade "fornecer subsídios", baseados na experiência do Exército da Bolívia, "para o estudo de guerrilhas".

A primeira lição ensinada pelos militares bolivianos aos brasileiros é a de infiltrar informantes entre os guerrilheiros, estratégia que acabou sendo adotada. "Com referência aos últimos episódios que se desenrolaram na Bolívia em sua luta com as guerrilhas comunistas, assinala-se que tornava-se bastante difícil aos órgãos de informação conhecer com precisão a situação do inimigo", informa o texto. "Foi dada ênfase especial, dinamizando ao máximo as informações, a importância dos informantes civis. Atuaram positivamente sobre os elementos simpatizantes dos guerrilheiros, elementos participantes (recrutadores de novos guerrilheiros, contatos, sabotadores, agitadores, etc) em todo o país."

DETALHAMENTO

No documento, são descritos os tipos de operações executadas pelos grupos rebeldes, com detalhamento da modalidade de ação, número de pessoas envolvidas e outras táticas adotadas na Bolívia.

O material, classificado como secreto, lista uma série de vulnerabilidades apresentadas pelos rebeldes bolivianos em suas ações desenvolvidas no interior do país. Segundo a análise, os locais escolhidos para desencadear as operações contra o governo, sempre no campo, não eram favoráveis para esse tipo de ação.

Ainda de acordo com texto, outra vulnerabilidade era o "desgaste excessivo pelo tempo de permanência na região e das condições atmosféricas adversas".

Mais um ponto frágil registrado foi o "baixo moral, ante a não obtenção de apoio da população rural, bem como da classe média". Também foi destacada a "destruição dos pontos de apoio", como correios, contatos e elementos recrutadores.