Título: Terremoto de 8,8 graus mata pelo menos 214 no Chile e espalha terror
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2010, Internacional, p. A14

Após um dos mais intensos tremores da história, ilhas do Pacífico, incluindo o Havaí, entram em estado de alerta

Um dos terremotos mais intensos da história foi registrado na madrugada de ontem no Chile, deixando pelo menos 214 mortos e um número indefinido de feridos. O tremor de 8,8 graus na escala Richter - muito mais forte do que o terremoto que devastou o Haiti em 12 de janeiro, que registrou 7 graus - derrubou prédios, pontes e viadutos, além de provocar um alerta de tsunami em toda a área do Pacífico. A presidente Michelle Bachelet declarou parte do país como zona de desastre.

"Há uma enorme quantidade de danos cuja dimensão ainda não conhecemos exatamente. Tudo está sendo avaliado", disse Bachelet. A líder chilena sobrevoou as principais áreas atingidas e caminhou pelas cidades de Concepción e Maule, duas das mais devastadas.

O presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, afirmou que o prejuízo para a infraestrutura do país é "enorme". "Quero compartilhar a dor dos parentes das pessoas que perderam a vida. É provável que esse número aumente porque temos muitos feridos", disse Piñera, que assumirá a presidência no dia 11. "Foi um duro golpe para a infraestrutura do país, houve perdas muito importantes em estradas, aeroportos e moradias." Pelo menos 1,5 milhão de casas foram afetadas em todo o país pelo tremor.

Piñera ainda afirmou que destinará 2% do orçamento público para a reconstrução das zonas afetadas. "Comprometo a total ajuda e o compromisso da equipe do futuro governo com a presidente Bachelet."

O tremor teve seu epicentro no sul do território chileno, perto de Maule, a 321 quilômetros ao sudoeste de Santiago, e foi sentido na Argentina e em São Paulo (mais informações na página A20).

Depois de cerca de 50 réplicas - a maior delas com 6,9 graus na escala Richter -, o aeroporto internacional da capital foi fechado por ter sua torre de controle danificada, impossibilitando a saída e a chegada de voos no país. As primeiras informações eram de que a pista do aeroporto também tinha sido danificada.

O terremoto causou um tsunami na Ilha de Juan Fernández, a 600 quilômetros da costa chilena. A Ilha de Páscoa também corria o risco de ser atingida pelas ondas gigantes. O governo emitiu ordem de retirada das 4 mil pessoas que vivem na ilha.

O alerta de tsunami se manteve até a noite de ontem nas Ilhas Galápagos; na Austrália; em Samoa e Samoa Americana. No Havaí, nos EUA, o tsunami chegou por volta das 19 horas de Brasília, mas com pouca força.

DESESPERO

A atmosfera em Santiago era de desespero. Edifícios e pontos foram derrubados, enquanto uma enorme fábrica que tratava de componentes químicos ficou envolta em chamas. O serviço de energia elétrica foi cortada, assim como as linhas telefônicas.

Ao amanhecer, policiais e bombeiros recorriam às ruas da capital para verificar a magnitude dos prejuízos. Carros formavam filas em postos de gasolina em busca de combustível. Milhares de pessoas deixaram sua casas e acamparam nas ruas com medo das réplicas.

"Foi como ver o fim do mundo", disse o comerciante Vicente Acuna. "Eu observava como os automóveis iam caindo e não sabia o que fazer porque estava sozinho", disse Mario Riveiros, segurança de uma indústria em Santiago, parado perto de uma ponte que caiu. "Só me dava vontade de chorar."

Na cidade de Concepción, a 500 quilômetros ao sul da capital, o prédio do governo caiu e feridos estavam sendo transferidos dos centros de saúde.

O Chile está localizado sobre a intersecção de duas placas geológicas que constituem uma das principais zonas sísmicas do mundo.

O tremor de ontem foi o pior já registrado em território chileno desde 1960, quando um terremoto de 9,5 graus na escala Richter - o maior de que se tem notícia - ocorreu no país.