Título: Importação cresce no ritmo de recuperação da economia
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2010, Economia, p. B4

Em janeiro, houve alta de 16,8%, comparada com o mesmo mês de 2009

O bom desempenho da economia já começou a impulsionar as importações. A tendência é que novas empresas busquem adquirir insumos, produtos acabados e máquinas no mercado externo em 2010. "Estamos retomando o padrão de importações do pré-crise", disse o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.

Em janeiro, as importações cresceram 16,8% em relação a janeiro de 2009. O ritmo das compras externas foi melhorando ao longo dos meses na comparação com igual período do ano anterior. Em outubro, as importações caíam 22,2%. Em novembro, a redução foi de 8,2%. Em dezembro, uma alta de 6,8%. A balança comercial de fevereiro será divulgada na segunda-feira.

A recuperação das importações está sendo impulsionada pelas compras de bens intermediários. Entre setembro de 2009 e janeiro, as empresas brasileiras importaram 9,5% mais insumos, apontam dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) calculados sem influências sazonais pela LCA Consultores. Só em janeiro, comparado com dezembro, as importações de insumos subiram 3,2%.

O ritmo de crescimento das importações de matéria-primas chega a ser superior ao da produção industrial. A estimativa da LCA é que a produção da indústria avançou 3,1% entre setembro e janeiro. Os dados de janeiro ainda não foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Está ocorrendo uma substituição de insumos nacionais por importados", disse o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. O principal estímulo da troca de fornecedores nacionais por importados é o câmbio. Mesmo os exportadores procuram importar mais para manter sua competitividade - uma espécie de hedge natural.

No setor de bens de consumo duráveis, a substituição de produtos nacionais por importados é mais visível. Entre setembro e janeiro, a importação desses itens cresceu expressivos 30,2%, enquanto a produção caiu 1,1%. A retirada dos benefícios fiscais concedidos pelo governo para combater a crise impactaram a produção local.

Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a reação das importações começou em setembro de 2009 e deve atingir um ritmo mais forte a partir de março.

Ele acredita que as importações de bens de capital devem se recuperar com vigor à medida que as empresas voltam a investir. Na sua avaliação, o câmbio valorizado vai ajudar as empresas a substituir maquinário obsoleto. Por enquanto, as compras externas de máquinas e equipamentos ainda mostram estagnação. Na série sem influências sazonais, a alta é de apenas 0,6% nesse setor.

A avaliação dos especialistas em comércio exterior é que mesmo uma desvalorização moderada do real não vai atrapalhar o crescimento das importações, que deve ocorrer acompanhando o desempenho da economia brasileiro. "O câmbio só vai prejudicar as compras externas se o dólar ultrapassar R$ 2", diz Castro.