Título: PR apoia Dilma, mas rechaça controle de mídia
Autor: Werneck, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2010, Nacional, p. A10

Partido da base de apoio a Lula diz ter reservas quanto às diretrizes do programa petista Integrante da base de sustentação do governo Lula há quase oito anos, o PR vai apoiar a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência, mas quer mudanças no programa de governo petista. Em almoço com Dilma, ontem, dirigentes, deputados e senadores do PR disseram à ministra que não vão aceitar o controle da mídia nem as ocupações promovidas pelo Movimento dos Sem-Terra (MST).

O PT decidiu radicalizar as diretrizes do programa de governo de Dilma no último dia 19. O documento que passou pelo crivo do 4º Congresso do partido, intitulado "A Grande Transformação", prega o combate ao monopólio dos meios de comunicação, a reativação do Conselho de Comunicação Social, a cobrança de impostos sobre grandes fortunas e a jornada de trabalho de 40 horas semanais.

"Discordamos de alguns pontos da proposta do PT e queremos influenciar a preparação da plataforma da ministra", afirmou o deputado Milton Monti (PR-SP), presidente da Comissão de Transportes da Câmara que participou do almoço, na casa de Dilma. "Não aceitamos cabresto sobre a imprensa, como na Venezuela, e nosso ideário se contrapõe às atitudes do MST, pois defendemos o respeito ao direito de propriedade."

MÉDIA

Para Monti, o programa de Dilma deve representar "a média" do pensamento dos aliados. Além do PR, o PMDB já anunciou que montará comissão ? composta por nomes como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o ex-deputado Delfim Netto e o ex-ministro Mangabeira Unger ? para apresentar, até meados de abril, propostas à candidata.

"Não haverá interferência estatal na comunicação", garantiu o deputado e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (PT-SP), um dos coordenadores da campanha de Dilma. "Não concordo com a forma como foi posta essa questão da mídia no Programa Nacional de Direitos Humanos e nas diretrizes do nosso programa", emendou.

A taxação sobre grandes fortunas e a jornada de 40 horas são outros tópicos que opõem o PT a parte dos aliados. "Mas a ministra nos disse que ninguém precisa se preocupar porque o programa está em fase de preparação", observou o deputado Luciano Castro (PR-RR).

O PR fará convenção no dia 5 de abril para oficializar o apoio a Dilma. Nessa data, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento ? que deixará o cargo no próximo dia 2 para concorrer ao governo do Amazonas ?, assumirá a presidência do PR. Atingido pelo escândalo do mensalão, em 2005, o PR não conseguiu acertar com a cúpula do PT, porém, como será a participação do presidente Lula e de Dilma no palanque de Anthony Garotinho. Pré-candidato ao governo fluminense pelo PR, Garotinho apoia Dilma, mas o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB) ? que disputa o segundo mandato ? não quer que ela apareça ao lado do adversário. "Apoio não se rejeita", resumiu o presidente do PT, José Eduardo Dutra. "Se o Garotinho apoia Dilma, não vamos chutá-lo."