Título: Lula diz que vai à cúpula da segurança atômica
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2010, Internacional, p. A18

No encontro com Hillary, presidente fala da viagem ao Oriente Médio

A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, leva na bagagem de volta a Washington ao menos um "sim" do governo brasileiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que participará da reunião de cúpula sobre segurança nuclear, convocada pelo presidente dos EUA, Barack Obama. No encontro de um hora com Hillary, porém, Lula não deu sinal em nenhum momento de que o Brasil vá ceder às pressões de Washington e assinar o protocolo adicional do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP).

Apesar da resistência brasileira sobre o protocolo adicional, Obama quer fazer um encontro, em maio, com a maior representatividade possível ? no que a presença de Lula é considerada uma ajuda importante. A questão do protocolo, segundo assessores do presidente, não foi citada na reunião realizada no Centro Cultural do Banco do Brasil, atual sede provisória do governo.

Na semana passada, em sua visita ao Brasil, o subsecretário de Assuntos Políticos do Departamento de Estado americano, William Burns, indicou o desejo de uma contrapartida nessa área por parte do governo brasileiro. A expectativa americana é que mais países venham a assinar o protocolo adicional depois da Conferência de Revisão do TNP, que será na sede das ONU, em Nova York. Os EUA querem se apresentar como exemplo e, até maio, firmar um compromisso com a Rússia de redução de seus estoques de ogivas nucleares. No âmbito doméstico, querem ratificar o acordo que proíbe totalmente os testes atômicos.

A conversa entre Lula e Hillary, ontem, durou uma hora e foi considerada "agradável", segundo o chanceler Celso Amorim. Por um desencontro da administração do cerimonial, Hillary ficou dez minutos no carro esperando a autorização para subir para o gabinete presidencial.

"SABE COMO É"

Lula insistiu com a secretária de Estado que é preciso manter o diálogo entre os dois países para que a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP-16) não fracasse. Reafirmou ainda a importância de Obama prosseguir com o diálogo juntos aos países latino-americanos, e em especial com a América do Sul.

O encontro oficial foi encerrado com uma brincadeira de Lula que, sempre que pode, introduz nas conversas a candidata à sua sucessão, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Depois de posar para foto juntando suas mãos com as de Amorim e as de Hillary, Lula chamou a ministra Dilma e puxou sua mão para junto das demais. "Sabe como é, né? Quem sabe um dia", disse Lula, referindo-se à possibilidade de Dilma sucedê-lo no Planalto e de, na condição de presidente da República, vir a se encontrar novamente com Hillary e outros membros do governo Obama.

Depois do encontro, Amorim disse em entrevista que as divergências entre o Brasil e os EUA refletem "diálogo, discussão e troca de pontos de vista". Não tendem a se converter em brigas, afirmou, porque se trata de "uma relação entre atores maduros, não de uma criança e um adulto ou de duas crianças". Acrescentou: "Eu não vejo nenhum problema." Lula convidou novamente Obama para vir ao Brasil. Mas a visita de Hillary não foi suficiente para que o governo brasileiro tenha a certeza de ele virá este ano.

PALESTINOS

Para Amorim, os acordos de cooperação firmados durante a visita de Hillary ? para a reconstrução do Haiti, para evitar a violência contra as mulheres e para promover a igualdade racial ? demonstram a convergência de políticas entre os países.

De acordo com Amorim, na conversa houve referência ao Oriente Médio, quando o presidente Lula comunicou a Hillary que vai mesmo visitar Israel, os territórios palestinos e a Jordânia, na próxima semana. Disse ainda que estará, em maio, no Irã. Lula reiterou sua intenção de falar com os principais lideres do mundo, entre eles, o próprio presidente Obama, sobre a questão nuclear.

"Nós temos procurado adotar uma solução pacífica para essa situação", comentou, referindo-se ao conflito do Oriente Médio e à questão nuclear iraniana. Lula reiterou a necessidade de manter conversações com o Irã para não isolar o país.