Título: Falta de alimentos angustia chilenos
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2010, Internacional, p. A16

'Sempre acharão que poderíamos ter feito melhor', diz presidente

A distribuição de alimentos para a população afetada pelo terremoto em Concepción tem sido lenta, o que, segundo alguns moradores, explica a onda de saques a supermercados de vítimas desesperadas. "Provavelmente as pessoas sempre sentirão que as coisas poderiam ter sido feitas de um modo melhor", disse ontem a presidente chilena, Michelle Bachelet. "Mas a verdade é que, dada a extensão (do tremor), tudo o que se fizer será insuficiente."

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Além da falta de alimentos, água, abrigo e energia elétrica um outro problema tem preocupado os sobreviventes - a falta de comunicação com seus parentes em outras regiões do Chile e no exterior.

A rede de transmissão de voz da telefonia móvel foi cortada e as pessoas passaram a usar apenas o serviço de envio de textos pelo celular em parte do sul do país. Mas a falta de energia elétrica também obriga os sobreviventes a racionarem a bateria de seus celulares, reduzindo a comunicação ao mínimo necessário.

Os principais meios de comunicação do Chile colocaram suas páginas na Internet e seus sinais de rádio e TV à disposição de parentes que buscam por sobreviventes na zona afetada pelo terremoto. A TVN - emissora estatal, líder de audiência no país - retransmite na tela os textos recebidos no Twitter de dois de seus repórteres que estão na zona do desastre. Os apresentadores também divulgaram seus e-mails para intermediar o contato dos que não têm acesso à Internet.

REDES DE RELACIONAMENTO

A rede social Facebook foi a forma que Manuel Pamplona encontrou para avisar seus parentes e amigos que havia sobrevivido ao terremoto.

Sentado sobre um monte de escombros na frente da Praça de Armas da cidade de Concepción, Manuel, um espanhol de Pamplona, de 28 anos, que vive há um ano no Chile, explicou ao Estado que um amigo com o qual divide o apartamento conseguiu falar pelo celular com outro amigo, que mora em Santiago, que, por sua vez, recebeu instruções para entrar no Facebook de Pamplonal e, ali, postar a informação de que o espanhol havia sobrevivido ao terremoto.

No entanto, no Facebook não houve tempo de descrever como ele havia escapado. "Estava dançando, me divertindo numa discoteca, quando tudo começou a tremer; a luz e a música desapareceram, as pessoas saíram correndo, todas juntas. Com medo, me escondi debaixo de uma mesa que estava perto de mim. Parecia uma eternidade. Nunca havia estado em um terremoto antes. Eu lembrava das imagens do terremoto do Haiti e morria de medo", disse.

Falando rápido, como se estivesse revivendo a catástrofe, Pamplona explicou que, no meio do terremoto, raciocinou: "Esta discoteca é nova. Até agora aguentou". Em seguida, ele abandonou a segurança da mesa sob a qual estava escondido e saiu correndo "em disparada até chegar à rua", contou.