Título: Hillary chega a Brasília com Irã no topo da agenda
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2010, Internacional, p. A18

Secretária de Estado encontra-se hoje com Lula e deve cobrar apoio na pressão sobre Teerã

A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, desembarcou ontem em Brasília, após passar pelo Uruguai, Argentina e Chile. A número 1 da diplomacia de Washington não participaria de encontros oficiais na noite de ontem e apenas se reuniria com o embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon. Hoje, Hillary se encontrará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o chanceler Celso Amorim.

Na reunião com Amorim serão assinados acordos nas áreas de mudança climática, políticas de gênero e cooperação. Hillary ainda virá hoje ao São Paulo, onde participará de um debate na Universidade Zumbi dos Palmares.

Do Brasil, a secretária de Estado seguirá para Costa Rica e Guatemala.

Mais de um ano depois da posse de Barack Obama, a Casa Branca envia ao Brasil sua responsável pela política externa. Mas, em vez da relação calorosa que se previa desde a chegada do democrata ao poder e da saudação "esse é o cara" (dirigida por Obama ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em abril), a secretária de Estado americana chega em clima de cobrança - e não de cortesia.

A complacência do Itamaraty com o regime do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, é só o mais visível de uma série de complicadores dos laços entre Brasília e Washington.

O desgaste da relação - que já trazia latentes questões comerciais que envolvem subsídios agrícolas e medidas protecionistas por parte dos EUA - tornou-se evidente durante a crise política em Honduras, quando o Brasil juntou-se às vozes do continente que exigiam mais vigor dos EUA na condenação do golpe militar de 28 de junho.

O papel dos EUA e de outras grandes potências na fracassada cúpula de Copenhague, sobre o combate ao aquecimento global, tornou-se outro ponto delicado ao sofrer crítica aberta de Lula na reunião de países latino-americanos e do Caribe há duas semanas, em Cancún.

Na visita, Hillary deve aconselhar o governo de Lula a agir de uma maneira "mais coordenada" com Washington, França, Grã-Bretanha e Rússia quando o assunto for o programa nuclear do Irã. Diplomatas brasileiros admitem que os EUA serão porta-vozes de uma cobrança das potências, querendo saber de que lado está o País.

Lula, porém, deixou transparecer o clima do encontro com a representante de Obama - que tinha deixado claro que o tema do Irã estava "no topo da agenda". "Já visitei centenas de países, e o Irã é um país de 80 milhões de habitantes. Estou indo para o Irã como vou a qualquer país do mundo", disse.

POSIÇÕES DIVERGENTES

Irã: Os EUA querem a aprovação de novas sanções contra o Irã na ONU. Brasil opõe-se às sanções e insiste na negociação de um acordo entre Teerã e as potências ocidentais. Anteontem, Hillary avisou que pretende assegurar-se de que Brasil "compreende a preocupação mundial com o Irã"

Retaliação: Subsídios dos EUA ao setor algodoeiro foram condenados pela OMC, que autorizou o Brasil a retaliar bens americanos e a área de propriedade intelectual

Haiti: Depois do atrito entre Brasil e EUA sobre os primeiros socorros ao Haiti, os dois países pretendem cooperar juntos pela reconstrução haitiana

OEA do B: Ideia do México, a criação de uma organização latino-americana e caribenha foi lançada com apoio integral do Brasil. O objetivo é excluir EUA e Canadá do novo organismo regional

Democracia: Prevê ações conjuntas de Brasil e EUA fortalecer instituições de nações em que a democracia é frágil

Economia: Longe do objetivo de liberalização comercial, EUA e Brasil pretendem adotar apenas medidas de facilitação do comércio e investimentos recíprocos